sábado, 7 de fevereiro de 2015

O que envolve a chamada "Santa Ceia"

Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. (1 Coríntios 11:25-31)

Daqui a alguns minutos me dirigirei à igreja onde será celebrado (ou ministrado) o que alguns cristão tomam por sacramento e outros como “apenas” um culto mais “célebre”, a que se convencionou chamar “Santa Ceia”.
A Bíblia é um conjunto de livros de onde é possível se extrair diferentes simbologias, mas parece que a Santa Ceia, a exemplo da Páscoa e da festa dos pães asmos, está entre aqueles mais objetivos e determinantes, na medida em que a sua realização é um pedido crístico.
Sim, o próprio Jesus às vésperas da traição de Judas requerera de seus discípulos que repetissem aquele ato em sua memória até que chegasse o momento de seu retorno e, então – e desde então –, as diferentes igrejas que professam o cristianismo adotam esse ritual como forma de recordar o sacrifício de Cristo em nome da redenção dos pecados da humanidade.
Esse ritual, como se sugere, é recorrente, segundo a predileção de cada doutrina, sendo que alguns o celebram semanalmente, outros mensalmente, outros anualmente e muitos até diariamente.
Coube a Paulo de Tarso, autonomeado o “13º apóstolo de Jesus Cristo”, impor certos limites e estabelecer a forma em que deveria se dar esse culto “mais especial”, principalmente porque recebera notícias de que o povo de Corinto não o praticava com o intuito maior de relembrar o sacrifício de Cristo, mas sim, com desídia e desleixo, como se ajuntassem para um piquenique num jardim.
Paulo apresenta para a igreja daquela cidade grega as suas considerações a respeito dessa celebração memorial da doação de Cristo de seu corpo, seu sangue e sua vida para a redenção dos nossos pecados e é a partir das considerações de Paulo que eu pretendo, agora, apresentar as minhas considerações:
O primeiro ponto é entendermos que Paulo, estudioso e devoto do Cristo que lhe apareceu a caminho de Damasco, se arvora na condição de professor e não de legislador. Paulo não se investe e nem fora investido na condição de regente e nem de regrador da igreja cristã (da mesma forma que, a contrário do que se convencionou crer em alguns meios, Pedro também não o foi). O que Paulo faz é advertir a igreja segundo a sua crença a partir da necessidade que sente de agir em face dos abusos que vinham sendo cometidos ali.
Ora, se o intento de Paulo fosse impor um dogmatismo universal daquilo que se desenhava como o Cristianismo, suas epístolas trariam, rigorosamente, as mesmas admoestações, ao invés de serem cada qual direcionadas e confeccionadas para igrejas específicas com dúvidas ou práticas específicas.
Assim, Paulo apresenta a sua forma de pensar e sugere uma forma de ser. Ele não determina uma forma de se viver.
Digo isso porque os fiéis de suas igrejas tendem a receber uma carga muito grande no tempo em que se antecede a celebração dessa “ceia”. Por força do costume, não raro veem-se temendo as “promessas” de sofrimento, de dor, de doença e de morte em razão de participarem da “santa ceia” sem o devido preparo, sem a devida consagração.
Lembremos sempre – e já se disse isso aqui em outro texto – que a cidade de Corinto tinha os templos de seus deuses como local de encontro para toda sorte de sordidez carnal, sendo um local em que as pessoas iam para se embebedar, deitarem-se umas com as outras e ali permanecerem no encontro das lascívias individuais, tudo isso lhes parecendo certo, mas errado aos olhos de Paulo e dos que lhe escreveram pesarosos.
O dever de consagração é inerente a todos quanto queiram manter uma vida próxima de Deus, não se restringindo a uma semana específica em razão de um fato específico. Mas o objetivo dessa reunião não é separar o joio do trigo ou o puro do impuro. Dá mesma forma que não era para as pessoas se celebrarem entre si para, com o coração voltado ao sofrimento de Cristo, relembrarem o objetivo maior da pregação do Evangelho que é fazer o mundo saber que Ele se deu em nosso lugar, mas ressuscitado, foi assunto ao céu, e de lá recebe as nossas ações de graça em memória de Si.
Paulo parece entender que o desprezo que os corintos pareciam nutrir ao ato de amor do messias é que era a causa de seu sofrimento e é como se ele lhes dissessem: “examinem-se! Antes de comerem do pão que simboliza seu corpo partido e beberem do cálice que simboliza seu sangue derramado, façam um exame de consciência e vejam o quanto vocês são verdadeiramente gratos a isso e o quanto esse ato é de fato importante pra vocês e, se conseguirem se sentir gratos ao que Ele nos fez, então, coma desse pão e beba desse cálice”.
Não há qualquer proibição de participação da ceia em razão de terem cometido algum dito pecado. Não. Pecados são cometidos o tempo todo e ninguém mais do que Deus sabe disso. A mim parece que a Deus não importa como pecamos, mas como reagimos e convivemos com o nosso pecado. Se nos alegramos no pecado, entristecemos e nos afastamos de Deus; se o pecado nos entristece e nos quebranta, Deus o esquecerá. Daí que penso que a preocupação de Paulo estava em fazer com que os corintos ganhassem consciência de que a “ceia” é menos festa e mais reflexão. Uma reflexão que, bem feita, reafirmará e renovará nosso sentimento de gratidão.

Vem cear! E que Deus seja para conosco.

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