Semelhantemente também, depois de
cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue;
fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as
vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor,
até que venha. Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do
Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se,
pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o
que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não
discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e
doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não
seríamos julgados. (1 Coríntios 11:25-31)
Daqui a alguns minutos me dirigirei
à igreja onde será celebrado (ou ministrado) o que alguns cristão tomam por
sacramento e outros como “apenas” um culto mais “célebre”, a que se
convencionou chamar “Santa Ceia”.
A Bíblia é um conjunto de livros
de onde é possível se extrair diferentes simbologias, mas parece que a Santa
Ceia, a exemplo da Páscoa e da festa dos pães asmos, está entre aqueles mais
objetivos e determinantes, na medida em que a sua realização é um pedido
crístico.
Sim, o próprio Jesus às vésperas
da traição de Judas requerera de seus discípulos que repetissem aquele ato em
sua memória até que chegasse o momento de seu retorno e, então – e desde então –,
as diferentes igrejas que professam o cristianismo adotam esse ritual como
forma de recordar o sacrifício de Cristo em nome da redenção dos pecados da humanidade.
Esse ritual, como se sugere, é
recorrente, segundo a predileção de cada doutrina, sendo que alguns o celebram
semanalmente, outros mensalmente, outros anualmente e muitos até diariamente.
Coube a Paulo de Tarso, autonomeado
o “13º apóstolo de Jesus Cristo”, impor certos limites e estabelecer a forma em
que deveria se dar esse culto “mais especial”, principalmente porque recebera
notícias de que o povo de Corinto não o praticava com o intuito maior de
relembrar o sacrifício de Cristo, mas sim, com desídia e desleixo, como se
ajuntassem para um piquenique num jardim.
Paulo apresenta para a igreja
daquela cidade grega as suas considerações a respeito dessa celebração memorial
da doação de Cristo de seu corpo, seu sangue e sua vida para a redenção dos
nossos pecados e é a partir das considerações de Paulo que eu pretendo, agora,
apresentar as minhas considerações:
O primeiro ponto é entendermos
que Paulo, estudioso e devoto do Cristo que lhe apareceu a caminho de Damasco,
se arvora na condição de professor e não de legislador. Paulo não se investe e
nem fora investido na condição de regente e nem de regrador da igreja cristã
(da mesma forma que, a contrário do que se convencionou crer em alguns meios,
Pedro também não o foi). O que Paulo faz é advertir a igreja segundo a sua crença
a partir da necessidade que sente de agir em face dos abusos que vinham sendo
cometidos ali.
Ora, se o intento de Paulo fosse impor
um dogmatismo universal daquilo que se desenhava como o Cristianismo, suas
epístolas trariam, rigorosamente, as mesmas admoestações, ao invés de serem
cada qual direcionadas e confeccionadas para igrejas específicas com dúvidas ou
práticas específicas.
Assim, Paulo apresenta a sua
forma de pensar e sugere uma forma de ser. Ele não determina uma forma de se
viver.
Digo isso porque os fiéis de suas
igrejas tendem a receber uma carga muito grande no tempo em que se antecede a
celebração dessa “ceia”. Por força do costume, não raro veem-se temendo as “promessas”
de sofrimento, de dor, de doença e de morte em razão de participarem da “santa
ceia” sem o devido preparo, sem a devida consagração.
Lembremos sempre – e já se disse
isso aqui em outro texto – que a cidade de Corinto tinha os templos de seus
deuses como local de encontro para toda sorte de sordidez carnal, sendo um
local em que as pessoas iam para se embebedar, deitarem-se umas com as outras e
ali permanecerem no encontro das lascívias individuais, tudo isso lhes
parecendo certo, mas errado aos olhos de Paulo e dos que lhe escreveram pesarosos.
O dever de consagração é inerente
a todos quanto queiram manter uma vida próxima de Deus, não se restringindo a
uma semana específica em razão de um fato específico. Mas o objetivo dessa
reunião não é separar o joio do trigo ou o puro do impuro. Dá mesma forma que
não era para as pessoas se celebrarem entre si para, com o coração voltado ao
sofrimento de Cristo, relembrarem o objetivo maior da pregação do Evangelho que
é fazer o mundo saber que Ele se deu em nosso lugar, mas ressuscitado, foi
assunto ao céu, e de lá recebe as nossas ações de graça em memória de Si.
Paulo parece entender que o
desprezo que os corintos pareciam nutrir ao ato de amor do messias é que era a
causa de seu sofrimento e é como se ele lhes dissessem: “examinem-se! Antes de
comerem do pão que simboliza seu corpo partido e beberem do cálice que
simboliza seu sangue derramado, façam um exame de consciência e vejam o quanto
vocês são verdadeiramente gratos a isso e o quanto esse ato é de fato importante
pra vocês e, se conseguirem se sentir gratos ao que Ele nos fez, então, coma
desse pão e beba desse cálice”.
Não há qualquer proibição de participação
da ceia em razão de terem cometido algum dito pecado. Não. Pecados são
cometidos o tempo todo e ninguém mais do que Deus sabe disso. A mim parece que a
Deus não importa como pecamos, mas como reagimos e convivemos com o nosso
pecado. Se nos alegramos no pecado, entristecemos e nos afastamos de Deus; se o
pecado nos entristece e nos quebranta, Deus o esquecerá. Daí que penso que a
preocupação de Paulo estava em fazer com que os corintos ganhassem consciência
de que a “ceia” é menos festa e mais reflexão. Uma reflexão que, bem feita,
reafirmará e renovará nosso sentimento de gratidão.
Vem cear! E que Deus seja para conosco.
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