quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O que o pastor espera da igreja? Quem ele é e o que ele faz de si?

Eu sempre fico imaginando como é difícil ser pastor. As pessoas tendem a esperar demais do médico, do advogado e do pastor. Mas o que o pastor espera das pessoas?
Aqui pretendo em rápidas linhas tratar do aspecto humano do pastor. Sem espiritualização do que quer que seja. Pois bem.
O pastor é gente como a gente: se cansa, se irrita, sente-se mal, sente-se cansado, sente-se feliz, revigorado, irado, relaxado, com problemas, sossegado, sente fome, sente sede e sente até mesmo medo (e olha que julgo desnecessário lembrar que o pastor, enquanto homem feito de carne, também está sujeito aos mesmos desejos tidos por “carnais” que os membros de sua igreja têm).
Acontece que o pastor está para igreja como os pais estão para os filhos. Os filhos olham o pai como exemplo, como modelo. Muitas vezes não importa o que esse pai faz da porta pra fora, dentro de casa esse pai é valente, eficiente, amoroso, reto. Um verdadeiro herói infalível, que não sente qualquer medo ou desespero. Mas nós sabemos que não é assim. Muitas vezes, para não assombrar seus filhos ou deixa-los com medo, o pai cala a situação, silencia o seu próprio medo e a sua dor e a sua angústia, pra segurar a mão do filho e, reunindo suas forças dizer: “tudo vai ficar bem, pode confiar”. E com o pastor é a mesma coisa.
A igreja espera um pastor valente, cheio de uma fé inabalável, que não tenha problemas em casa, que ore constantemente e que toda vez que converse ou emita uma opinião, esteja sob a orientação de Deus. Muitas pessoas, inclusive, devem olhar para o pastor como se fosse o boneco do “ventríloquo Deus”, atribuindo por sagrado todos seus ensinamentos e opiniões. A igreja não consegue imaginar que o pastor discute com a esposa ou põe as mãos na cabeça por não saber ao certo como lidar com o próprio filho. A igreja não consegue pensar que o pastor pode não gostar de dormir no escuro ou, de repente, até gosta de um filme mais agitado, com bombas, explosões e até exposições gratuitas de “corpos sarados”.
E quanto a pensar num pastor chorando por medo de morrer ou de que algum ente querido seu morra? Deus que os livre. Onde já se viu um pastor que não queira estar logo com seu Deus?
Muitas são as pessoas que acham que o pastor é o super-homem incapaz de vacilar, de temer ou de errar. Aquele que a todos escuta e que sempre sabe o que dizer. Aquele que a todos aconselha e sabe sempre o que é melhor. Ou não é comum ouvir: “se meu pastor disse, certamente está sob a orientação de Deus”?
Quanta responsabilidade!
Quer ver “crente” ficar desesperado? É o pastor ficar doente e procurar médico pra se tratar. “Mas se ele é pastor e ora pra gente, porque não ora por ele mesmo?”. É, ainda temos gente assim...
Mas comecei dizendo que a minha dúvida era: o que o pastor espera da igreja? Amor a ele? Obediência aos seus ensinos? Respeito à sua pessoa? Temor de si? Infelizmente as redes sociais nos “aproximam” de diferentes formas de “pastorear”. Vemos aquele que prefere ser chamado de “líder” a ser chamado de “pastor”. Como também temos aquele a quem ser chamado de pastor já parece pouco, então se eleva a “bispo”, o que só não é pior do que aquele que intitula a si mesmo de “apóstolo”.
E pensar que o próprio Jesus chama a si mesmo de “o bom pastor”. Mas para alguns parece que isso é pouco...
Eu gostaria de acreditar que aquilo que o pastor mais espera da igreja é que ela cumpra os dois mandamentos: “ame a Deus acima de todas as coisas e ao seu próximo como a si mesmo”. Mas é o que eu menos tenho visto. O que eu vejo são pessoas cada vez mais indiferentes às outras (tanto às de dentro como às de fora da sua igreja) e que vão à igreja com um tipo de competição velada, desde quem mais tem oportunidades até o “glória a Deus” mais alto (isso sem falar no “reteté”).
Enquanto isso, muitas pessoas saem da igreja sem que sua falta seja notada (e há quem diga: não faz mal, sai um, Deus manda dois). E daí eu pergunto: não são todos uma família? Não se chamam a todos de irmãos? Não pregam a beleza de estar em comunhão? Mas será que estão mesmo? Eu sempre acho que não.
A igreja se arvora no direito de serem* juízes do comportamento alheio. Julgam com base em fofocas, diz-que-me-dizes, preconceitos de toda ordem e autoimagens bastante deturpadas de si mesmos.
Nesse ponto, aumenta a responsabilidade do pastor. Se ele atua de maneira a reforçar essa imagem que fazem dele de “santo”, “incorruptível”, “inatingível” por aquilo que é humano, ele acaba reforçando que as pessoas queiram lhe parecer assim, como forma de contrapartida. Mas nem ele e nem essas pessoas são assim. Fingem-se. Creem-se. Enganam-se.
Jesus lavou o pé dos apóstolos. Qual pastor lava o pé da igreja (óbvio que no sentido figurado). A questão é que para lavar os pés, é necessários se abaixar. É necessário deixar que o outro – que em tese é menos – por aquele instante seja maior. É submeter-se a grandeza de outro. É entender que nem sempre ele está acima e que, muitas vezes, há dentre aqueles a quem ele ensina, muitos que também podem lhe ensinar. Acontece que se o pastor espera obediência, ele não quer ouvir outras vozes. Está confortável com a sua.
Mas o bom pastor não se contém e nem se basta nas 99 ovelhas que o ouviram e o seguiram. O bom pastor é aquele que dando a falta de uma, instrui e guarda com o amor as outras 99, mas não deixa de ir atrás daquela uma que certamente teve motivos para ficar à parte. Não... ele vai ter com ela, ele olha para ela, cuida do que precisa ser cuidado e aprende de si na medida em que cuida daquela. Talvez pra que seja ouvido por todos, precisa chamar diferente, num tempo diferente, com um carinho diferente e até exercendo sua autoridade de modo diferente. Mas sempre com amor...
Não é fácil ser pastor. Mas se nos permitirmos sermos humanos e não mais do que nossas forças nos dão, talvez enxerguemos a importância de deixar de lado a perfeição que apenas mostra, pra vivermos o amor de uma forma muito maior e verdadeira do que só a aparente.



*o verbo está no plural por uma questão simbólica que vem do entendimento do autor de que a Igreja são as pessoas e não o templo físico

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