Esse é o texto de abertura desse
blog que vou usar de meu próprio púlpito de pregação da minha própria teologia.
De início, cumpre se lembrar –
pra quem ainda não o sabe – que sou um crítico. De que? De quase tudo. Ocorre
que há aquelas críticas que a gente faz com base no que estuda, há aquelas
críticas que a gente faz com base no que ouve e aquelas críticas que a gente faz
com base no que vê.
Algumas das minhas críticas somam
essas 03 razões.
Nasci, fui criado, batizado e
atuante na igreja Assembleia de Deus. Neto de pastor presidente de grandes
campos, já acumulo muitos anos em um meio que aprendi a conhecer bem. Além
disso, estudei, me formei, graduei, pós-graduei e li. Amei o conhecimento e por
me assombrar com o alcance da sabedoria, nunca duvidei que ela fosse fruto de
quem é Deus.
Mas quem é Deus? Não sei...
O que Deus pensa? Também não
sei...
O que Deus quer? Sei tampouco...
E esse é o ponto: assim como eu
não sei, ninguém realmente sabe. Deus é algo tão “louco” no sentido de uma
existência tão acima de cada um de nós, que é impossível qualquer pessoa, numa ínfima
existência que não dura mais do que 100 anos, possa afirmar que sabe quem Ele
é, o que Ele pensa ou o que Ele espera
ou quer.
De Deus nós – os que nele cremos – podemos
saber que Ele é eterno, onipotente, onipresente e onisciente e também, com base
nas nossas experiências de vida, podemos saber o que Ele fez por nós e que são
coisas tão maravilhosas, que nos é permitido ter a fé enquanto certeza de que
Ele, por sua condição, pode, inclusive, fazer “infinitamente mais do que pedimos
ou pensamos”.
Sim. Do que pensamos... talvez
aqui esteja o maior equívoco dos homens que se querem fiéis seguidores desse
Deus cuja ciência está infinitamente além do que nós podemos alcançar. O homem, na
sua tentativa desesperada de entender a Deus, acaba humanizando Deus. O homem
“oferece a Deus” características humanas como a raiva, a ira, a revolta, o
revanchismo, o ímpeto assassino. Mas, ao mesmo tempo em que o homem prega um Deus
que é amor e justo, não se constrange em dizer que se você comete um erro em
meio a 99 acertos, terá por destino a danação eterna. E o pior, no mais das
vezes, quem escolhe qual é esse “erro” que condena o homem, é o próprio homem
que acha que entende o que Deus quer ou quem Deus é.
A Bíblia, um dos livros que
apresentam Deus ao mundo, chega a apresentar alguns trechos em que Deus busca
facilitar ao homem a compreensão, não de quem Deus é, mas do pouco que nós
homens somos: “Quem mediu as águas na
concha da mão (...)Na verdade as nações são como a gota que sobra do balde;
para ele são como o pó que resta na balança; para ele as ilhas não passam de um
grão de areia. (...)Ele se assenta no seu trono, acima da cúpula da terra,
cujos habitantes são pequenos como gafanhotos. (...)’Com quem vocês me
compararão? Quem se assemelha a mim?’, pergunta o Santo. (...)Ergam os olhos e
olhem para as alturas. Quem criou tudo isso? Aquele que põe em marcha cada estrela
do seu exército celestial, e a todas chama pelo nome...” (vide aqui a
íntegra de Isaías 40).
Não seria mais interessante se os
homens parassem de tentar entender quem é o Deus que eles não alcançam e
empreendessem esse mesmo esforço em entenderem a si mesmos? Não seria melhor
que ao invés de querermos entender o ininteligível, entendêssemos uns aos outros?
Ao invés de ficar medindo o comportamento alheio e condenando-o com uma lei
criada por homens que acham que sabem qual é a lei de Deus, não seria mais
digno nos ombrearmos a fim de dividir o peso do fardo que nós mesmos impomos uns
aos outros?
Vejo as igreja preocupadas em
pregar mais a salvação do que o pecado. Em alertar mais a “última hora da vida”,
do que a vida vivida até a sua última hora. Vejo igrejas com discursos de ódio,
de guerra, de uma retidão fingida e, pra piorar, vejo que quanto mais se prega
a demagogia, mais os espectadores demagogos levantam a mão e bradam “glórias” e
“aleluias” a fim de (espero que inconscientemente #sqn) parecerem mais santos e
mais justos e justificados que os outros.
Não erra quem fala que e a igreja
é a comunidade em que mais prepondera a hipocrisia. Nela, muitos pensam, mas
têm medo de pensar; muitos questionam, mas são admoestados a só aceitar; e
tantos outros lutam para que não precisem pensar e, assim, não sejam responsabilizados
por simplesmente ousarem discordar.
E o resultado disso são pessoas cada
vez mais amarguradas, angustiadas, tantas vezes achando que são piores do que
aquelas que são piores do que elas, mas disfarçam melhor. O resultado disso,
também é um grupo de pessoas que se afasta de Deus porque não enxerga o amor na
igreja. Vê um chamando ao outro de irmão, mas não sabem chorar junto, não sabem
ouvir, não sabem nem mesmo orar com quem precisa ou por quem precisa, ao passo
que parecem estar sempre ávidos por atirarem a primeira pedra.
Talvez um dia as pessoas que
frequentam aquelas quatro paredes chamadas de igreja entendam que elas é quem são a igreja e não a construção edificada. Entendam que Deus está no coração e não no altar. Que
a palavra de Deus é dita diretamente a quem precisa ouvir, não porque outra
pessoa disse, mas porque Deus sabe como falar. Deus fala na natureza, no rádio,
na tv, no cinema. O canto dos pássaros é a voz de Deus, o cair da chuva é
presença de Deus, a brisa que refresca ou o vento que empurra, tudo é Deus,
porque tudo nasce de uma criação coordenada por Deus.
Talvez um dia as igrejas entendam
que os homens erram e que não faz sentido acreditar que Deus espera que o homem
não erre, nem que faz sentido acreditar que Deus acredita ou espera algo já que não temos como pensar nem como um
deus, muito menos como O Deus.
Quando entendermos que errar é
viver e viver é errar e aceitarmos que não existe ser perfeito e que o prazer
não foi feito pra negar, talvez entendamos que se Deus é amor, pode ser que a
única coisa que precisemos fazer por nós mesmos é amar.
No mais, Fernando Pessoa narrou bem o que parecem os crentes
na maioria das igrejas. Leia aqui.
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