domingo, 21 de setembro de 2014

“Descompreendendo” Deus para voltar a amar o homem

Esse é o texto de abertura desse blog que vou usar de meu próprio púlpito de pregação da minha própria teologia.
De início, cumpre se lembrar – pra quem ainda não o sabe – que sou um crítico. De que? De quase tudo. Ocorre que há aquelas críticas que a gente faz com base no que estuda, há aquelas críticas que a gente faz com base no que ouve e aquelas críticas que a gente faz com base no que vê.
Algumas das minhas críticas somam essas 03 razões.
Nasci, fui criado, batizado e atuante na igreja Assembleia de Deus. Neto de pastor presidente de grandes campos, já acumulo muitos anos em um meio que aprendi a conhecer bem. Além disso, estudei, me formei, graduei, pós-graduei e li. Amei o conhecimento e por me assombrar com o alcance da sabedoria, nunca duvidei que ela fosse fruto de quem é Deus.
Mas quem é Deus? Não sei...
O que Deus pensa? Também não sei...
O que Deus quer? Sei tampouco...
E esse é o ponto: assim como eu não sei, ninguém realmente sabe. Deus é algo tão “louco” no sentido de uma existência tão acima de cada um de nós, que é impossível qualquer pessoa, numa ínfima existência que não dura mais do que 100 anos, possa afirmar que sabe quem Ele é, o que Ele pensa ou  o que Ele espera ou quer.
De Deus nós – os que nele cremos – podemos saber que Ele é eterno, onipotente, onipresente e onisciente e também, com base nas nossas experiências de vida, podemos saber o que Ele fez por nós e que são coisas tão maravilhosas, que nos é permitido ter a fé enquanto certeza de que Ele, por sua condição, pode, inclusive, fazer “infinitamente mais do que pedimos ou pensamos”.
Sim. Do que pensamos... talvez aqui esteja o maior equívoco dos homens que se querem fiéis seguidores desse Deus cuja ciência está infinitamente além do que nós podemos alcançar. O homem, na sua tentativa desesperada de entender a Deus, acaba humanizando Deus. O homem “oferece a Deus” características humanas como a raiva, a ira, a revolta, o revanchismo, o ímpeto assassino. Mas, ao mesmo tempo em que o homem prega um Deus que é amor e justo, não se constrange em dizer que se você comete um erro em meio a 99 acertos, terá por destino a danação eterna. E o pior, no mais das vezes, quem escolhe qual é esse “erro” que condena o homem, é o próprio homem que acha que entende o que Deus quer ou quem Deus é.
A Bíblia, um dos livros que apresentam Deus ao mundo, chega a apresentar alguns trechos em que Deus busca facilitar ao homem a compreensão, não de quem Deus é, mas do pouco que nós homens somos: “Quem mediu as águas na concha da mão (...)Na verdade as nações são como a gota que sobra do balde; para ele são como o pó que resta na balança; para ele as ilhas não passam de um grão de areia. (...)Ele se assenta no seu trono, acima da cúpula da terra, cujos habitantes são pequenos como gafanhotos. (...)’Com quem vocês me compararão? Quem se assemelha a mim?’, pergunta o Santo. (...)Ergam os olhos e olhem para as alturas. Quem criou tudo isso? Aquele que põe em marcha cada estrela do seu exército celestial, e a todas chama pelo nome...” (vide aqui a íntegra de Isaías 40). 
Não seria mais interessante se os homens parassem de tentar entender quem é o Deus que eles não alcançam e empreendessem esse mesmo esforço em entenderem a si mesmos? Não seria melhor que ao invés de querermos entender o ininteligível, entendêssemos uns aos outros? Ao invés de ficar medindo o comportamento alheio e condenando-o com uma lei criada por homens que acham que sabem qual é a lei de Deus, não seria mais digno nos ombrearmos a fim de dividir o peso do fardo que nós mesmos impomos uns aos outros?
Vejo as igreja preocupadas em pregar mais a salvação do que o pecado. Em alertar mais a “última hora da vida”, do que a vida vivida até a sua última hora. Vejo igrejas com discursos de ódio, de guerra, de uma retidão fingida e, pra piorar, vejo que quanto mais se prega a demagogia, mais os espectadores demagogos levantam a mão e bradam “glórias” e “aleluias” a fim de (espero que inconscientemente #sqn) parecerem mais santos e mais justos e justificados que os outros.
Não erra quem fala que e a igreja é a comunidade em que mais prepondera a hipocrisia. Nela, muitos pensam, mas têm medo de pensar; muitos questionam, mas são admoestados a só aceitar; e tantos outros lutam para que não precisem pensar e, assim, não sejam responsabilizados por simplesmente ousarem discordar.
E o resultado disso são pessoas cada vez mais amarguradas, angustiadas, tantas vezes achando que são piores do que aquelas que são piores do que elas, mas disfarçam melhor. O resultado disso, também é um grupo de pessoas que se afasta de Deus porque não enxerga o amor na igreja. Vê um chamando ao outro de irmão, mas não sabem chorar junto, não sabem ouvir, não sabem nem mesmo orar com quem precisa ou por quem precisa, ao passo que parecem estar sempre ávidos por atirarem a primeira pedra.
Talvez um dia as pessoas que frequentam aquelas quatro paredes chamadas de igreja entendam que elas é quem são a igreja e não a construção edificada. Entendam que Deus está no coração e não no altar. Que a palavra de Deus é dita diretamente a quem precisa ouvir, não porque outra pessoa disse, mas porque Deus sabe como falar. Deus fala na natureza, no rádio, na tv, no cinema. O canto dos pássaros é a voz de Deus, o cair da chuva é presença de Deus, a brisa que refresca ou o vento que empurra, tudo é Deus, porque tudo nasce de uma criação coordenada por Deus.
Talvez um dia as igrejas entendam que os homens erram e que não faz sentido acreditar que Deus espera que o homem não erre, nem que faz sentido acreditar que Deus acredita ou espera  algo já que não temos como pensar nem como um deus, muito menos como O Deus.
Quando entendermos que errar é viver e viver é errar e aceitarmos que não existe ser perfeito e que o prazer não foi feito pra negar, talvez entendamos que se Deus é amor, pode ser que a única coisa que precisemos fazer por nós mesmos é amar.
No mais, Fernando Pessoa narrou bem o que parecem os crentes na maioria das igrejas. Leia aqui.

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