“Deus não está morto”. Já tinha
ouvido falar desse “filme sensação”, mas ainda não tinha me interessado em
assistir até que minha irmã de 14 anos disse que era um “filme bonito” e
interessante. Daí, passando pela página inicial do “Netflix” vi o anúncio de
sua disponibilidade e apertei o “play”.
Penso que meu primeiro contato em
relação à notícia da existência desse filme, divide-se em 02 momentos bastante
específicos: a tendência de um grande número de pessoas postarem “Deus não está
morto” nas redes sociais que, por sua vez, me levou a procurar a respeito do
que se trata e descobrir se tratar de um filme, buscando a crítica no Francisco
Russo no site “Adoro Cinema”, “meu site oficial” de consultas sobre a sétima arte.
Comecei a assistir ao filme sem
grandes expectativas – e que bom que foi assim.
Um pouco sugestionado pela
crítica lida meses atrás, já sabia que não deveria esperar um filme que
apresentasse grandes indagações filosóficas, mas sim, um filme voltado a
satisfazer o público a que se destina: os cristãos. E penso que o filme fez isso
até bem demais (e isso não é um elogio).
Antes de mais nada, achei no
mínimo curioso o fato de o filme ter entre seus protagonistas dois atores
conhecidos por terem sido, um “o filho de Zeus” (Kevin Sorbo da série de TV “Hércules”)
e outro a representação cultural do “messias judeu”, mais conhecido como "Superman" (Dean Cain, o Superman da série Lois & Clark). Mas vamos em
frente.
O filme “Deus não está morto” é
exageradamente tendencioso. Faz com que os ateus pareçam idiotas histéricos
(não que muitos não sejam), também faz com que os descrentes do que não seja o
cristianismo sejam intolerantes desarrazoados e incapazes de conviverem com
pensamentos diferentes, ao passo que, durante todo o tempo, os cristãos são
abnegados e incompreendidos pregadores à serviço de um propósito nascido em
seus corações por meio da providência divina.
Se todos os caminhos levavam a
Roma, em “Deus não está morto”, todos os acontecimentos convergem para que o “cristianismo”
seja o único caminho admissível, seja como razoável, seja como inevitável. E
isso agrada muito... apenas aqueles cristãos que vibram por verem os ideais
plantados no seu íntimo ganhando voz e vida diante de seus olhos, na
representação de um fiel resoluto, capaz de suportar toda sorte de pressões de
família, namorada, professor e colegas de turma para, no final, ser “glorificado”
por sua atitude diante de uma multidão que assistia um show (?) em que se
anunciava “the King is coming” (o Rei está voltando).
O filme não propõe um diálogo com
as outras religiões monoteístas e nem leva a sério o pensamento ateísta. Antes,
anuncia (até “sutilmente”) que os grandes filósofos ateus foram pessoas que acreditaram
em Deus, mas como pediram algo e ouviram “não”, ficaram de bico e preferiram acreditar
que Ele não existe para, quem sabe assim, se vingarem de Deus.
Nesse ponto, sempre tive minha convicção em relação a dois dos
filósofos e cientistas citados pelo professor no começo do livro: Nietzsche e
Freud não eram ateus. Até podiam se anunciar como se fossem, mas sempre os
imaginei se afirmando ateus, olhando pra cima e sorrindo sarcasticamente, mais
empenhados em “se vingarem” de um Deus a quem atribuíam grande parcela de
responsabilidade por suas mazelas (basta que lembremos que Nietzsche era filho
de um pastor protestante que se ocupou mais da igreja do que da família e Freud
era filho de judeus).
Outro ateu do filme é caracterizado
em sua indiferença em relação ao sofrimento da mãe e à doença da namorada,
passando a impressão de que o fato de não acreditar em Deus faz com que a
pessoa seja – consequentemente – ruim. E no fim, todos os que não criam, creem
pelo medo do que virá já que a morte se anuncia (o que me parece a parte mais
verdadeira, já que não estamos prontos para pensar que o final da vida é, de
fato, o fim da existência e, então, buscamos um alento no porvir que esperamos
que nos virá).
O filme, em sim é um “ode à
apologética”. Imagino o prazer orgástico que os entusiastas dessa vertente da
teologia devem sentir quando veem muitos dos seus sofismas reproduzidos de modo
a calarem “cientistas” e convencerem “descrentes”. Chega-se, inclusive, a se
incorrer no erro comum de se atribuir a Dostoievski uma frase escrita por ele
em "Irmãos Karamazov", mas que ele nunca escreveu, mas isso é pra outra história.
No entanto, de todos os 112
minutos de filme, há um trecho que achei muito bom. À certa altura, a mãe de
uma das personagens, já com a demência tão avançada quanto os anos sugeridos
pelas marcas do tempo de seu rosto, quase como estando num estado de transe
semelhante ao das pitonisas (ou do oráculo do “Matrix”), diz ao filho o que me
soou com uma verdade que posso aplicar para mim que acredito que exista algo
como o diabo:
“Às vezes o diabo permite que as pessoas vivam livres de problemas
porque ele não as quer voltando-se para Deus. Seu pecado é como uma cadeia, mas
ela é boa e confortável, não parece haver razão para sair dela. A porta está
aberta até um dia que o tempo acaba e a porta da cela bate e, de repente, é
tarde demais.”
Precisamos ter cuidado para não
nos sentirmos confortáveis no enlameado de nossos próprios erros.
Assim, como bem disse minha irmã,
apesar de tendencioso, fraco e previsível, o filme é “bonito”. E eu concordo
com seu título. DEUS NÃO ESTÁ MORTO. Mas não acho que seus idealizadores foram
felizes na forma de dialogar com o resto do mundo que, a despeito de não crerem
igual, não são ruins.
ps.: ao final do filme há uma mensagem
afirmando que o filme foi elaborado a partir de situações que geraram processos
judiciais por perseguição que alunos de universidades americanas sofreram de
professores que não aceitavam suas crenças. Isso também é lamentável. Ninguém é
intelectualmente menos favorecido porque optou ter fé. É preciso de fé tanto
para crer em Deus quanto para não crer em Deus. E penso que isso o filme foi
bem capaz de demonstrar.
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