Não que eu ache que os pastores tenham
todas as respostas ou que eles tenham das melhores respostas. Contudo, apesar
do que a grande mídia tenta sugerir, a grande maioria dos pastores são pessoas
boas, pessoas de bem. Óbvio que cada vez mais a igreja vai se assemelhando a
uma grande empresa espalhada nos mais diferentes rincões desse país, produzindo
muita riqueza e ganhando influência política. E sim, isso subiu à cabeça de
muitos pastores que começaram a crer – não sei de forma tola ou consciente –
que o rendimento financeiro de sua igreja se confundia com uma aprovação de
Deus à sua conduta. Essa parte é realmente lamentável.
Mas não quero falar desses
pastores que fizeram do episcopado profissão ao invés de vive-lo por vocação ou
que fizeram das igrejas pequenas monarquias em que a vontade de Deus parece
menos importante que a hereditariedade. Quero falar dos pastores de verdade,
homens comprometidos em, cada qual com a sua limitação, ajudarem a igreja a não
andar na contramão da vontade divina.
Quem está escrevendo aqui é
alguém que tem muita dificuldade em ouvir. Recentemente, durante um culto
específico, assista – mais do que ouvia – um pastor que tem todo o meu respeito
(e ainda que meu respeito não signifique nada e nem faça diferença alguma pra
quem quer que seja, é raro quem o tenha mais do que é educado respeitar – e ele
tem todo!) e esse pastor, ainda mais sério do que costumeira é e com o tom de
voz bastante grave e circunspecto, falava de pessoas como eu que, como vocês
podem observar nos textos anteriores, tende a questionar muitas convenções.
Em um primeiro momento aquela
fala me incomodou por demais. Mas muito mesmo. Até por imaginar que ali eram
poucos os que como eu não só discordam, como expõe as razões de sua discordância,
foi inevitável vestir a carapuça que muito provavelmente nem me fosse destinada
(não há porque me dar uma importância que não me pertence). Durante toda a sua
explanação, objetiva, direta e meticulosa, esse pastor deixava bastante claro
que não procurava “dominar” ninguém, tampouco sujeitar os ouvintes ao seu modo
de vida. Não. Por todo o tempo ele apresentava a sua preocupação com aqueles
que ousavam questionar a Bíblia como um livro absoluto, o que – baseado nesse “livro”
– poderia conduzir à danação.
Só que naquele preciso momento,
naquela precisa situação, tudo o que eu conseguia fazer, da distância em que me
encontrava e de onde poucos me viam, eu não ouvi assim, como relato agora.
Àquela altura, em meio a uma multidão que não cuidava de mim, só conseguia
balançar a cabeça. Não conseguia aprovar.
O dia seguinte amanheceu e
durante todo ele eu remoía aquela palavra. Meu incômodo foi tanto que mesmo o
dia seguinte sendo dia de retornar à igreja, eu preferi ficar em casa. Daquilo
que ouvi junto de todos os demais, uma parte do meu orgulho queria direcionar à
minha inteligência dos fatos, ao mesmo tempo em que refletia a respeito da
passividade da maior parte do auditório. E foi aí que eu percebi. É um grande
auditório.
“Cada cabeça, uma sentença!”,
diriam os revolucionários entusiastas da grande invenção” de Joseph-Ignace
Guillotin. Mas, também nós, herdeiros de Camões podemos ler essa frase como se
cada cabeça fosse capaz de pensar e construir suas próprias “sentenças”, no seu
aspecto gramatical.
E ali éramos mais de 800 cabeças,
cada uma com uma história, um medo, um arrependimento, uma ideia, um sonho...
ou vários desses que pontuei como se fossem um. O pastor precisa dar uma
palavra para 800 pessoas que tiveram criações diferentes, instruções
diferentes, psiques diferentes, expectativas diferentes e precisa que faça
sentido pra todas. Como ele conseguiria atender tantas demandas com uma só
palavra? Não conseguiria, nem jamais conseguirá...
Dessa forma, o pastor precisa
escolher o que parece mais adequado à generalidade dos que o ouvem. Precisa
confiar na sua verdade e apresenta-la, sujeitando o seu pensamento ao
pensamento de uma maioria que precisa entender que ele não está ali para
agradar, nem pra controlar ou pra punir, mas que ele espera, sim, contribuir
para que – nas próxima vida que cremos nos dará Cristo – estejamos todos juntos
sem que ele tenha que dar conta do que deixou de dizer.
O pastor não tem como saber tudo,
mas ele não tem a intenção de errar. Se você pensa diferente do teu pastor e
tem medo daquilo que você pensa diferente do teu pastor e esse medo te causa
dúvida, talvez seja o caso de você tentar entender o porquê do teu pastor
pensar diferente e o quanto você realmente acha que deve pensar diferente do
teu pastor.
Mas se você tem dúvida e não sabe
para onde ir, o pastor vai ter sempre uma solução que se adeque a todos e que
parece boa. Então, na dúvida, escute a voz do teu pastor.
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