domingo, 9 de novembro de 2014

O Segredo de um relacionamento íntimo com Deus

É difícil deixar de acreditar que Deus ajuda sim e que de uma forma ou de outra ele coopera pelo bem dos que Ele ama. É aí que me pego pensando em Davi. Ele acreditava que Deus o ajudaria a vencer Golias e por isso o desafiou e sabia que ele não teria tempo pra mais do que uma pedra e mesmo crendo em Deus e que seria com aquele lançamento primeiro que ele mataria o gigante, ele pegou 05 pedras porque ele era humano, apesar de ser “o homem segundo o coração de Deus”, ele era homem e como homem tinha medo, porque confiar em Deus não é ser desprovido de medo, ter fé não é ter que ter certeza e não ter dúvidas.
E David pegou as 05 pedras e graças à Deus, acertou na primeira. Esse mesmo Davi que nunca saia pra uma batalha sem consultar a Deus primeiro e que quando saiu por conta foi humilhado
Cada qual naquilo que foi chamado, foi o recado de Samuel pra Saul quando ele disse: tem o senhor mais prazer em sacrifícios do que em que obedeçam a sua palavra? Melhor é obedecer que sacrificar. O prazer maior de Deus e os meus anos de vida e tudo quanto eu já vi acontecendo me fazem pensar e crer que o prazer dele não está em levantarmos e reunirmos um pouco de força pra tolerar duas horas de um culto, mas de saber que nós tomamos nossas decisões na certeza de que - conforme ele mesmo falou pra Josué - onde quer que tocarmos a planta dos nossos pés, ali será nosso e será abençoado; que conforme ele falou para Abraão, onde nossas vistas alcançarem e os nossos sonhos chegarem, nós sabemos que Ele pode fazer acontecer. E não importa que o outro escolheu os campos verdes e você a terra deserta, porque até do deserto Deus é capaz de fazer brotar água e saciar o sedento, como fez com Hagar e Ismael.
Gosto quando Paulo fala que aprendeu tanto a ter abundancia como a passar necessidade porque nessas coisas e em todas as maneiras ele aprendeu que poderia todas as coisas desde que sujeito à graça e ao amor daquele que o fortalece.
Um relacionamento íntimo com Deus não está nas privações a que você se sujeita, nem na quantidade de horas que você passa de joelhos, mas no quanto ele é verdadeiramente fundamental na sua vida como um todo e não só naquele momento.
É a confiança de que ainda que tudo esteja ruim, não há nada que não possa reverter e nisso nós temos o exemplo de Jó.
Ainda que não tenhamos a casa no Morumbi, temos nosso teto que nos serve de abrigo (por mais simples que seja) e quando nós nos dermos conta de que isso é bom, que é sorte nossa de tê-lo, e darmos graças a Deus por ele, ao invés de questionarmos o porque não temos um melhor, aí nós estaremos entendendo o que Deus espera da gente, nada mais que gratidão.
Eu demorei pra entender o ditado que desde pequeno eu ouço de minha avó: quem não agradece o pouco, o que dirá do muito? Eu pensava: mas no muito que eu vou agradecer, mas não é verdade, a gente acaba sempre querendo mais... e esquece de agradecer pelo que tem; pela roupa que veste ou pelo carro que anda enquanto tantos ficam no ponto de ônibus, na chuva. Pela carne que come, enquanto muitos não têm nem arroz.
E a tudo isso devemos dar graças a Deus
Por podermos ir ao médico quando doentes sem ter que enfrentar filas nos corredores porque é uma condição que se temos, é graças a deus e a medida que aprendemos a agradecer o pouco, estaremos prontos para o muito.
Sendo Jesus o filho de Deus, ou sendo ele tão-somente um homem muito sábio como creem alguns, ele deixou muitos ensinamentos simples: Deus não se importa com o tanto que você ora, nem com o tanto que você dá de oferta, nem se você dá o seu dízimo.
O que importa pra Ele é saber o quanto Ele importa pra mim, pra você. Ou não foi isso que ele quis saber de Abraão ao pedir o sacrifício de Isaque?
E Abraão sempre crendo que Deus providenciaria o cordeiro, mas se não providenciasse, Deus traria Isaque dos mortos se preciso porque havia uma promessa, uma promessa de que ele seria o pai de uma grande nação e em romanos fala que dando glória a deus, Abraão foi se fortalecendo na fé.
E também não foi a toa que a oferta da viúva que se destacou dentre a dos fariseus. Ela só tinha aquela moeda e foi a que ela deu.
O segredo da verdadeira adoração a Deus, penso eu, é sermos verdadeiramente agradecidos e no mais veremos a resposta, afinal, a promessa que se fez foi para todos nós.
Então, se você tem plano e precisa de uma estratégia, faça como Davi: duvide, pergunte e você saberá.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Na dúvida, escute o teu pastor

Não que eu ache que os pastores tenham todas as respostas ou que eles tenham das melhores respostas. Contudo, apesar do que a grande mídia tenta sugerir, a grande maioria dos pastores são pessoas boas, pessoas de bem. Óbvio que cada vez mais a igreja vai se assemelhando a uma grande empresa espalhada nos mais diferentes rincões desse país, produzindo muita riqueza e ganhando influência política. E sim, isso subiu à cabeça de muitos pastores que começaram a crer – não sei de forma tola ou consciente – que o rendimento financeiro de sua igreja se confundia com uma aprovação de Deus à sua conduta. Essa parte é realmente lamentável.
Mas não quero falar desses pastores que fizeram do episcopado profissão ao invés de vive-lo por vocação ou que fizeram das igrejas pequenas monarquias em que a vontade de Deus parece menos importante que a hereditariedade. Quero falar dos pastores de verdade, homens comprometidos em, cada qual com a sua limitação, ajudarem a igreja a não andar na contramão da vontade divina.
Quem está escrevendo aqui é alguém que tem muita dificuldade em ouvir. Recentemente, durante um culto específico, assista – mais do que ouvia – um pastor que tem todo o meu respeito (e ainda que meu respeito não signifique nada e nem faça diferença alguma pra quem quer que seja, é raro quem o tenha mais do que é educado respeitar – e ele tem todo!) e esse pastor, ainda mais sério do que costumeira é e com o tom de voz bastante grave e circunspecto, falava de pessoas como eu que, como vocês podem observar nos textos anteriores, tende a questionar muitas convenções.
Em um primeiro momento aquela fala me incomodou por demais. Mas muito mesmo. Até por imaginar que ali eram poucos os que como eu não só discordam, como expõe as razões de sua discordância, foi inevitável vestir a carapuça que muito provavelmente nem me fosse destinada (não há porque me dar uma importância que não me pertence). Durante toda a sua explanação, objetiva, direta e meticulosa, esse pastor deixava bastante claro que não procurava “dominar” ninguém, tampouco sujeitar os ouvintes ao seu modo de vida. Não. Por todo o tempo ele apresentava a sua preocupação com aqueles que ousavam questionar a Bíblia como um livro absoluto, o que – baseado nesse “livro” – poderia conduzir à danação.
Só que naquele preciso momento, naquela precisa situação, tudo o que eu conseguia fazer, da distância em que me encontrava e de onde poucos me viam, eu não ouvi assim, como relato agora. Àquela altura, em meio a uma multidão que não cuidava de mim, só conseguia balançar a cabeça. Não conseguia aprovar.
O dia seguinte amanheceu e durante todo ele eu remoía aquela palavra. Meu incômodo foi tanto que mesmo o dia seguinte sendo dia de retornar à igreja, eu preferi ficar em casa. Daquilo que ouvi junto de todos os demais, uma parte do meu orgulho queria direcionar à minha inteligência dos fatos, ao mesmo tempo em que refletia a respeito da passividade da maior parte do auditório. E foi aí que eu percebi. É um grande auditório.
“Cada cabeça, uma sentença!”, diriam os revolucionários entusiastas da grande invenção” de Joseph-Ignace Guillotin. Mas, também nós, herdeiros de Camões podemos ler essa frase como se cada cabeça fosse capaz de pensar e construir suas próprias “sentenças”, no seu aspecto gramatical.
E ali éramos mais de 800 cabeças, cada uma com uma história, um medo, um arrependimento, uma ideia, um sonho... ou vários desses que pontuei como se fossem um. O pastor precisa dar uma palavra para 800 pessoas que tiveram criações diferentes, instruções diferentes, psiques diferentes, expectativas diferentes e precisa que faça sentido pra todas. Como ele conseguiria atender tantas demandas com uma só palavra? Não conseguiria, nem jamais conseguirá...
Dessa forma, o pastor precisa escolher o que parece mais adequado à generalidade dos que o ouvem. Precisa confiar na sua verdade e apresenta-la, sujeitando o seu pensamento ao pensamento de uma maioria que precisa entender que ele não está ali para agradar, nem pra controlar ou pra punir, mas que ele espera, sim, contribuir para que – nas próxima vida que cremos nos dará Cristo – estejamos todos juntos sem que ele tenha que dar conta do que deixou de dizer.
O pastor não tem como saber tudo, mas ele não tem a intenção de errar. Se você pensa diferente do teu pastor e tem medo daquilo que você pensa diferente do teu pastor e esse medo te causa dúvida, talvez seja o caso de você tentar entender o porquê do teu pastor pensar diferente e o quanto você realmente acha que deve pensar diferente do teu pastor.
Mas se você tem dúvida e não sabe para onde ir, o pastor vai ter sempre uma solução que se adeque a todos e que parece boa. Então, na dúvida, escute a voz do teu pastor. 

domingo, 26 de outubro de 2014

Deus não está morto – filme "bonitinho", mas ruim.

“Deus não está morto”. Já tinha ouvido falar desse “filme sensação”, mas ainda não tinha me interessado em assistir até que minha irmã de 14 anos disse que era um “filme bonito” e interessante. Daí, passando pela página inicial do “Netflix” vi o anúncio de sua disponibilidade e apertei o “play”.
Penso que meu primeiro contato em relação à notícia da existência desse filme, divide-se em 02 momentos bastante específicos: a tendência de um grande número de pessoas postarem “Deus não está morto” nas redes sociais que, por sua vez, me levou a procurar a respeito do que se trata e descobrir se tratar de um filme, buscando a crítica no Francisco Russo no site “Adoro Cinema”, “meu site oficial” de consultas sobre a sétima arte.
Comecei a assistir ao filme sem grandes expectativas – e que bom que foi assim.
Um pouco sugestionado pela crítica lida meses atrás, já sabia que não deveria esperar um filme que apresentasse grandes indagações filosóficas, mas sim, um filme voltado a satisfazer o público a que se destina: os cristãos. E penso que o filme fez isso até bem demais (e isso não é um elogio).
Antes de mais nada, achei no mínimo curioso o fato de o filme ter entre seus protagonistas dois atores conhecidos por terem sido, um “o filho de Zeus” (Kevin Sorbo da série de TV “Hércules”) e outro a representação cultural do “messias judeu”, mais conhecido como "Superman" (Dean Cain, o Superman da série Lois & Clark). Mas vamos em frente.
O filme “Deus não está morto” é exageradamente tendencioso. Faz com que os ateus pareçam idiotas histéricos (não que muitos não sejam), também faz com que os descrentes do que não seja o cristianismo sejam intolerantes desarrazoados e incapazes de conviverem com pensamentos diferentes, ao passo que, durante todo o tempo, os cristãos são abnegados e incompreendidos pregadores à serviço de um propósito nascido em seus corações por meio da providência divina.
Se todos os caminhos levavam a Roma, em “Deus não está morto”, todos os acontecimentos convergem para que o “cristianismo” seja o único caminho admissível, seja como razoável, seja como inevitável. E isso agrada muito... apenas aqueles cristãos que vibram por verem os ideais plantados no seu íntimo ganhando voz e vida diante de seus olhos, na representação de um fiel resoluto, capaz de suportar toda sorte de pressões de família, namorada, professor e colegas de turma para, no final, ser “glorificado” por sua atitude diante de uma multidão que assistia um show (?) em que se anunciava “the King is coming” (o Rei está voltando).
O filme não propõe um diálogo com as outras religiões monoteístas e nem leva a sério o pensamento ateísta. Antes, anuncia (até “sutilmente”) que os grandes filósofos ateus foram pessoas que acreditaram em Deus, mas como pediram algo e ouviram “não”, ficaram de bico e preferiram acreditar que Ele não existe para, quem sabe assim, se vingarem de Deus.
Nesse ponto, sempre tive minha convicção em relação a dois dos filósofos e cientistas citados pelo professor no começo do livro: Nietzsche e Freud não eram ateus. Até podiam se anunciar como se fossem, mas sempre os imaginei se afirmando ateus, olhando pra cima e sorrindo sarcasticamente, mais empenhados em “se vingarem” de um Deus a quem atribuíam grande parcela de responsabilidade por suas mazelas (basta que lembremos que Nietzsche era filho de um pastor protestante que se ocupou mais da igreja do que da família e Freud era filho de judeus).
Outro ateu do filme é caracterizado em sua indiferença em relação ao sofrimento da mãe e à doença da namorada, passando a impressão de que o fato de não acreditar em Deus faz com que a pessoa seja – consequentemente – ruim. E no fim, todos os que não criam, creem pelo medo do que virá já que a morte se anuncia (o que me parece a parte mais verdadeira, já que não estamos prontos para pensar que o final da vida é, de fato, o fim da existência e, então, buscamos um alento no porvir que esperamos que nos virá).
O filme, em sim é um “ode à apologética”. Imagino o prazer orgástico que os entusiastas dessa vertente da teologia devem sentir quando veem muitos dos seus sofismas reproduzidos de modo a calarem “cientistas” e convencerem “descrentes”. Chega-se, inclusive, a se incorrer no erro comum de se atribuir a Dostoievski uma frase escrita por ele em "Irmãos Karamazov", mas que ele nunca escreveu, mas isso é pra outra história.
No entanto, de todos os 112 minutos de filme, há um trecho que achei muito bom. À certa altura, a mãe de uma das personagens, já com a demência tão avançada quanto os anos sugeridos pelas marcas do tempo de seu rosto, quase como estando num estado de transe semelhante ao das pitonisas (ou do oráculo do “Matrix”), diz ao filho o que me soou com uma verdade que posso aplicar para mim que acredito que exista algo como o diabo:
“Às vezes o diabo permite que as pessoas vivam livres de problemas porque ele não as quer voltando-se para Deus. Seu pecado é como uma cadeia, mas ela é boa e confortável, não parece haver razão para sair dela. A porta está aberta até um dia que o tempo acaba e a porta da cela bate e, de repente, é tarde demais.”
Precisamos ter cuidado para não nos sentirmos confortáveis no enlameado de nossos próprios erros.
Assim, como bem disse minha irmã, apesar de tendencioso, fraco e previsível, o filme é “bonito”. E eu concordo com seu título. DEUS NÃO ESTÁ MORTO. Mas não acho que seus idealizadores foram felizes na forma de dialogar com o resto do mundo que, a despeito de não crerem igual, não são ruins.


ps.: ao final do filme há uma mensagem afirmando que o filme foi elaborado a partir de situações que geraram processos judiciais por perseguição que alunos de universidades americanas sofreram de professores que não aceitavam suas crenças. Isso também é lamentável. Ninguém é intelectualmente menos favorecido porque optou ter fé. É preciso de fé tanto para crer em Deus quanto para não crer em Deus. E penso que isso o filme foi bem capaz de demonstrar.

domingo, 28 de setembro de 2014

Sexo x Bíblia: muito barulho por nada...

... e se você pensou que ia chegar aqui e me ver defendendo alguma tese de viabilidade do sexo fora do casamento “à luz” dos textos da Bíblia se enganou. A Bíblia, enquanto livro, é bastante clara no sentido de reprovar essa prática.
E então você pode estar se perguntando: mas sobre o que será o texto se vai se falar sobre o que todas as igrejas já falam? E eu respondo que o texto vai querer fazer uma abordagem histórico-humana que leva a essa tendência a uma redação proibitiva.
É certo que no Novo Testamento ninguém abordou mais a questão da sexualidade do que Paulo. Mas quem era Paulo? Paulo era um judeu, fariseu, cujo nome hebraico era Saulo, bastante zeloso pela lei de Moisés, altamente instruído, o que lhe fazia admirado pelo seu gênio (moldado aos pés do mais famoso rabino de sua época) e pela sua eloquência. Ele foi escolhido pelos seus compatriotas como membro do Sinédrio, e era um rabi de notável capacidade sendo, também, cidadão romano em título herdado de seu pai.
Paulo era inteligentíssimo e a sua ascensão às camadas mais altas no poder religioso de então só atestam mais essa informação. Certamente, aluno de Gamaliel que foi, não estudou apenas a respeito das leis mosaicas, mas também conheceu e foi bem instruído a respeito da filosofia grega e a sua evolução.
Mas também precisamos conhecer os povos para quem Paulo mais pregou sobre sexualidade: Corinto, Tessalônica e demais regiões que à época, dominadas pelo Império romano, correspondiam ao território do que um dia foi a Grécia e hoje é a Turquia. Ainda assim, acham-se referências a comportamentos sexuais também nas cartas aos Gálatas, aos Romanos e aos Colossenses, em cujo mote central repousa no aconselhamento contra “adultério”, “lascívia” e “fornicação”.
Antes de qualquer coisa, cumpre fazer uma crítica a um costume adotado na interpretação literal apresentada pelos exegetas bíblicos. Fornicação é o sexo experimentado única e exclusivamente em nome do prazer. É o sexo pelo sexo, sem finalidade outra. Daí, sendo adultério o sexo praticado com outro que não seja o cônjuge (o que pressupõe, portanto, casamento), passaram a tratar a “fornicação” como se fosse referência ao sexo realizado antes do casamento. Da mesma forma, cumpre classificar o que seria essa “lascívia” a que se refere o “menor” dos apóstolos, como sendo um desejo incontrolável pelo sexo a ponto de abusar da moralidade pública e privada.
Já num primeiro momento é imperioso que afirmemos – e não nos esqueçamos – que a Bíblia é um livro escrito por homens. Além disso, esses homens são produtos de seu meio e de seu tempo.
(nesse ponto gosto sempre de relembrar uma das frases que mais gosto e que foi cunhada pelo filósofo espanhol Ortega y Gasset: “eu sou eu e minhas circunstâncias).
Por que faço essa ponderação a respeito dos homens, seu meio e seu tempo? Simples: nós não podemos analisar os escritos de Paulo (e de ninguém), sem que juntos analisemos o contexto local e temporal em que se escreveu. Vamos a eles então, destacando as principais cidades: Corinto, Tessalônica e Roma.
Em que pese que ao tempo de Paulo tanto Corinto quanto Tessalônica – cidades de origem gregas – já eram cidades conquistadas pelo Império Romano, receberam de César direito a uma relativa autonomia que lhes permitia manter os costumes gregos. E quais eram eles? Pontuarei ...
1.       Na cidade de Corinto existiam templos que prestavam culto em homenagem a Afrodite e, nestes locais a prostituição era sagrada. Inclusive, a história informa que havia no templo da deusa Afrodite mil sacerdotisas – de cabelos tosquiados – que aos finais de tarde desciam até a cidade e vendiam seus corpos e que nessa cidade, toda mulher virgem devia ser possuída, ao menos uma vez, por algum estrangeiro para obter a proteção da cidade pela deusa e só então podiam voltar para casa e se casar. Dessa forma, os estrangeiros deixavam verdadeiras fortunas nesses templos.
2.     Na Tessalônica, a adoração de ídolos estimulava um clima de flagrante promiscuidade. Cabiros, deus padroeiro de Tessalônica, Dionísio, Afrodite e a deusa egípcia Ísis tinham todos algo em comum: uma adoração altamente sexualizada, cheia de orgias e bebedeiras. Relações extraconjugais e prostituição eram muito comuns, sendo que, influenciados por Roma, seus cidadãos tinham à sua disposição os serviços de um número incontável de homens e mulheres dispostos a satisfazer todos os seus desejos; e os médicos aconselhavam que esses desejos não fossem reprimidos.
3.       No que diz respeito à Roma, podemos achar na clássica obra de Petrônio, "Satyricon", (ressalvado os exageros próprios da sátira) a descrição – em detalhes – dos excessos e as desmedidas romanas, seja com relação às orgias dos banquetes ou o exagero de comidas e bebidas, num tempo em que as mulheres romanas – diferente das gregas – gozavam de maior liberdade, pois mesmo as esposas podiam circular nas ruas e participar dos banquetes (e consequentemente das orgias). Contudo, em Roma, a prostituição era ainda mais acentuada e visível nas ruas e nos banquetes.
Esse era o contexto dos tempos de Paulo. Mas qual foi a criação que Paulo recebeu de Gamaliel quando ainda era Saulo? A farisaica. Saulo/Paulo era fariseu e os fariseus se imaginavam “santos” e “separados” pela sua forma de “pensar Deus”. O próprio Jesus, mais de uma vez, apontou a arrogância dos fariseus em relação aos demais frequentadores das sinagogas. Ora, tendo sido doutrinado numa rígida moralidade judaica, ao mesmo tempo em que herdou de seu pai um título de cidadão romano, o jovem Saulo teria uma série de motivos para repudiar essas práticas sexuais, menos pelo sexo em si e mais pelo paganismo ritualístico que elas representavam no contexto religioso dos povos que idolatravam outros deuses.
Daí Paulo questionar o adultério (comum em Roma) e a prostituição (comum e importante na Grécia).
Quando nos vemos conhecedores desse contexto, temos mais condições de entendermos a rigidez de Paulo, como, por exemplo, quanto à recomendação do uso de véu, que ele só faz em Corinto já que lá as prostitutas tinham as cabeças raspadas, sendo que ele entendia – naquele contexto, naquele local – que o cabelo comprido seria um sinal de honra para a mulher.
E fica mais óbvio ainda em relação à contrariedade de Paulo em relação ao sexo. Elas seguramente vem da ideia que ele tinha do que seria "imoral" conforme a criação que ele teve e de como era visto no seu tempo.
Quando Paulo censura os coríntios que mantinham relações sexuais com prostitutas, estava admoestando-os para o fato de que o sexo com aquelas mulheres era forma de adoração a outros deuses, como os citados acima, de modo que não é forçoso se considerar que a intenção de Paulo era obter um afastamento total dos povos das igrejas gregas de tudo o que representasse o culto aos outros deuses, prática tão explorada na permissiva cultura greco-romana.
Logo, não tem relação com o sexo em si, mas com o que o sexo representava naquelas culturas. Aqueles povos estavam acostumados com toda forma de sexo sendo considerada como forma de honrarem seus deuses. A partir do momento que Paulo prega que há um só Deus, ele precisa pontuar o fato de que as pessoas deveriam se afastar das práticas que lembravam sua religião passada, como faz, por exemplo, quando critica a participação dos tessalonicenses no sacrífico de sangue, já que naquela cidade havia o culto a Cabiros (cuja mensagem era de libertação dirigida aos povos escravizados por Roma e privados de direitos civis) e que incluía sacrifícios de sangue para comemorar o seu martírio.
E daí, as diferentes igrejas viram o tempo passar, mas sempre parecendo se recusaram a enxergar o tempo como uma linha que só anda pra frente. E daí fizeram da “virgindade” um paradigma importantíssimo no aspecto religioso. Mas será que isso vem de Deus?
A principal garantia trazida pela virgindade – se é que se pode chamar de garantia algo tão irrelevante – é a de que em tese aquela mulher não foi tocada sexualmente por nenhum outro homem (ao menos pelas vias, digamos, ortodoxas) e, consequentemente, não haveria o risco de que a prole que viesse ao casal fosse maculada por sangue alheio, com o marido criando filho de outro como se fosse seu.
Não custa lembrar que a Igreja Católica, mãe de todas as demais, incentivou que o casamento fosse cada vez mais visto como um negócio jurídico a ser interessante para todas as partes (mas lembro que já era assim com Abraão e a maior prova é seu neto, Jacó que de tanto amar a Raquel, trabalhou por 14 anos para seu sogro Labão, tão bem contada por Camões).
O pai da mulher a ser desposada lhe instituía um dote a ser pago para o esposo. Uma vez imaculada a jovem, mais atraente se mostrava para aquele homem (e sempre se queria o representante das melhores famílias) e menor poderia ser o valor pago. Agora, uma vez tendo manchado sua honra e o nome da família, arrumar um casamento para a filha compreendia uma maior disposição financeira do pai e uma menor exigência quanto à posição social do marido. Ou seja, negócios... e que, a exemplo do que faziam gregos e romanos, enxergavam a mulher como um ser “menor”, que servia aos interesses primeiro do pai, depois do marido, tendo seu valor conforme o que se lhe via no corpo (o selo de sua castidade e pureza), a despeito de ser impossível se exigir qualquer sinal do homem.
E foi daí que a virgindade começou a ser importante.
Mas os tempos são outros. Se é que o há, são poucos os que vivem sob a expectativa de desposarem uma mulher que não foi de nenhum outro homem e os que assim o fazem, via de regra são movidos por um machismo de quem tem medo de ser objeto de comparação.
Nós não vivemos tempos de permissividade sexual, mas sim de tolerância a partir de uma perspectiva de que o casamento é menos um negócio entre famílias e mais um arranjo entre nubentes que, se se quiserem, se terão independentemente de seu passado.
Mas o que vejo nas igrejas é uma pregação pró-virgindade, pró-castidade, que leva com que pais, mães e membros da igreja, tentem-se guardiães da pureza alheia, sendo que a notícia de que uma mulher, uma jovem moça, ousou dar vazão à sua personalidade e ao seu desejo, é causa de alvoroço, censura, sumária condenação. É considerada uma apostata em seu próprio meio, simplesmente porque se permitiu olhar pra frente e não para um passado que não lhe representa.
Nada mais ridículo e estarrecedor.
Sexo é só sexo e nada mais. Não faz ninguém melhor e nem pior do que ninguém. Há doenças que vem do sexo? Também há formas de evita-las. Há a possibilidade de uma falsa filiação em razão de diferentes parceiros? Há a possibilidade de se aferir o “verdadeiro” pai (biológico). Há o problema do prazer? Prazer só é problema quando não tem.
Não estou pregando e nem defendendo a promiscuidade. Ainda que defenda que cada um dá o que é seu da forma que quiser e que não é da minha conta. Todo o excesso é condenável socialmente. Comida em excesso, bebida em excesso e até... sexo em excesso. Há convenções sociais – como havia no tempo de Paulo – que variarão conforme a sociedade e é preciso ser levar isso em conta. Ninguém morre quando se rompe um hímen e nem perde a salvação quem conheceu o prazer sexual. Hoje, a grande maioria que “transa” não faz pra adorar Ísis ou Afrodite (a não ser que a parceira tenha esse nome), mas “transa” porque o corpo também amadurece sexualmente.
A quantidade de parceiros sexuais, seja um único, sejam poucos, sejam muitos, não faz ninguém melhor e nem pior do que ninguém. Só faz com que a pessoa seja ela mesma, com sua história, suas experiências e seus valores formados a partir do que lhe é apresentado e, em vida, experimentado.
Me indigna que uma mãe se indigne porque a filha ou o filho são sexualmente ativos ainda que solteiros; me indigna que alguém se sinta no direito de afirmar como uma pessoa adulta explorará sua sexualidade; me indigna que as pessoas se castrem em nome de conveniências e por temerem censuras de quem se lhes dizem “irmãos” para “ajudar a suportar o sofrimento”, mas que na verdade são “vouyeres” do sexo do semelhante.
E se você por um acaso pensou: "se a virgindade não é importante, por que Deus criou a mulher com hímen?" eu te respondo: bom, primeiro – se é que Eva existiu – não sabemos se ela tinha hímen, só sabemos que no momento em que foi criada, ela era adulta e virgem. Mas o hímen serve não como um sinal de imaculada comunhão com Deus, mas sim para que a menina, criança que engatinha e brinca no chão, tenha seu corpo protegido da invasão de fungos e bactérias pela abertura vaginal. É uma proteção que permite que a criança do sexo feminino cresça saudável.
Não me cabe – e nem a ninguém – incutir minhas neuroses e frustrações sexuais ao outros, mas sim, que se permita que cada um descubra o indivíduo que é, tendo paz para estar em paz com o Deus que lhe quer pra si e que se Lhe quer pra seu.
E por fim, no primeiro texto desse blog defendo que a ninguém é dado imaginar o que Deus pensa ou o que Deus quer, porque sua ciência é muito superior à nossa ínfima capacidade intelectual. Mas eu não concebo que um Deus que é um ser infinito, transcendental, com um universo inteiro para reger, ocupe-se mais da vida sexual das pessoas do que de seu coração.
De nada adianta enxergar o sexo como algo santo e em “muitos restos” agir como se fosse o próprio demônio.
Assim como tudo é relativo, talvez a culpa que se propõe seja a maior vilã no trato entre as pessoas, devendo ser combatida com a necessária parcimônia que permita com que as pessoas sejam menos frustradas e mais felizes.
O que quiser fazer, se quiser fazer, faça! As consequências serão suas. O que quiser fazer, mas prefere não fazer, não faça! As consequências serão suas. Agora se quem quer fazer é o outro, fica na tua; as consequências serão dele e, como você não é ele, você não tem como saber quem ele é e nem porque faz.
Chega de barulho por causa do sexo que não é você quem faz. Se é que você me entende.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O que o pastor espera da igreja? Quem ele é e o que ele faz de si?

Eu sempre fico imaginando como é difícil ser pastor. As pessoas tendem a esperar demais do médico, do advogado e do pastor. Mas o que o pastor espera das pessoas?
Aqui pretendo em rápidas linhas tratar do aspecto humano do pastor. Sem espiritualização do que quer que seja. Pois bem.
O pastor é gente como a gente: se cansa, se irrita, sente-se mal, sente-se cansado, sente-se feliz, revigorado, irado, relaxado, com problemas, sossegado, sente fome, sente sede e sente até mesmo medo (e olha que julgo desnecessário lembrar que o pastor, enquanto homem feito de carne, também está sujeito aos mesmos desejos tidos por “carnais” que os membros de sua igreja têm).
Acontece que o pastor está para igreja como os pais estão para os filhos. Os filhos olham o pai como exemplo, como modelo. Muitas vezes não importa o que esse pai faz da porta pra fora, dentro de casa esse pai é valente, eficiente, amoroso, reto. Um verdadeiro herói infalível, que não sente qualquer medo ou desespero. Mas nós sabemos que não é assim. Muitas vezes, para não assombrar seus filhos ou deixa-los com medo, o pai cala a situação, silencia o seu próprio medo e a sua dor e a sua angústia, pra segurar a mão do filho e, reunindo suas forças dizer: “tudo vai ficar bem, pode confiar”. E com o pastor é a mesma coisa.
A igreja espera um pastor valente, cheio de uma fé inabalável, que não tenha problemas em casa, que ore constantemente e que toda vez que converse ou emita uma opinião, esteja sob a orientação de Deus. Muitas pessoas, inclusive, devem olhar para o pastor como se fosse o boneco do “ventríloquo Deus”, atribuindo por sagrado todos seus ensinamentos e opiniões. A igreja não consegue imaginar que o pastor discute com a esposa ou põe as mãos na cabeça por não saber ao certo como lidar com o próprio filho. A igreja não consegue pensar que o pastor pode não gostar de dormir no escuro ou, de repente, até gosta de um filme mais agitado, com bombas, explosões e até exposições gratuitas de “corpos sarados”.
E quanto a pensar num pastor chorando por medo de morrer ou de que algum ente querido seu morra? Deus que os livre. Onde já se viu um pastor que não queira estar logo com seu Deus?
Muitas são as pessoas que acham que o pastor é o super-homem incapaz de vacilar, de temer ou de errar. Aquele que a todos escuta e que sempre sabe o que dizer. Aquele que a todos aconselha e sabe sempre o que é melhor. Ou não é comum ouvir: “se meu pastor disse, certamente está sob a orientação de Deus”?
Quanta responsabilidade!
Quer ver “crente” ficar desesperado? É o pastor ficar doente e procurar médico pra se tratar. “Mas se ele é pastor e ora pra gente, porque não ora por ele mesmo?”. É, ainda temos gente assim...
Mas comecei dizendo que a minha dúvida era: o que o pastor espera da igreja? Amor a ele? Obediência aos seus ensinos? Respeito à sua pessoa? Temor de si? Infelizmente as redes sociais nos “aproximam” de diferentes formas de “pastorear”. Vemos aquele que prefere ser chamado de “líder” a ser chamado de “pastor”. Como também temos aquele a quem ser chamado de pastor já parece pouco, então se eleva a “bispo”, o que só não é pior do que aquele que intitula a si mesmo de “apóstolo”.
E pensar que o próprio Jesus chama a si mesmo de “o bom pastor”. Mas para alguns parece que isso é pouco...
Eu gostaria de acreditar que aquilo que o pastor mais espera da igreja é que ela cumpra os dois mandamentos: “ame a Deus acima de todas as coisas e ao seu próximo como a si mesmo”. Mas é o que eu menos tenho visto. O que eu vejo são pessoas cada vez mais indiferentes às outras (tanto às de dentro como às de fora da sua igreja) e que vão à igreja com um tipo de competição velada, desde quem mais tem oportunidades até o “glória a Deus” mais alto (isso sem falar no “reteté”).
Enquanto isso, muitas pessoas saem da igreja sem que sua falta seja notada (e há quem diga: não faz mal, sai um, Deus manda dois). E daí eu pergunto: não são todos uma família? Não se chamam a todos de irmãos? Não pregam a beleza de estar em comunhão? Mas será que estão mesmo? Eu sempre acho que não.
A igreja se arvora no direito de serem* juízes do comportamento alheio. Julgam com base em fofocas, diz-que-me-dizes, preconceitos de toda ordem e autoimagens bastante deturpadas de si mesmos.
Nesse ponto, aumenta a responsabilidade do pastor. Se ele atua de maneira a reforçar essa imagem que fazem dele de “santo”, “incorruptível”, “inatingível” por aquilo que é humano, ele acaba reforçando que as pessoas queiram lhe parecer assim, como forma de contrapartida. Mas nem ele e nem essas pessoas são assim. Fingem-se. Creem-se. Enganam-se.
Jesus lavou o pé dos apóstolos. Qual pastor lava o pé da igreja (óbvio que no sentido figurado). A questão é que para lavar os pés, é necessários se abaixar. É necessário deixar que o outro – que em tese é menos – por aquele instante seja maior. É submeter-se a grandeza de outro. É entender que nem sempre ele está acima e que, muitas vezes, há dentre aqueles a quem ele ensina, muitos que também podem lhe ensinar. Acontece que se o pastor espera obediência, ele não quer ouvir outras vozes. Está confortável com a sua.
Mas o bom pastor não se contém e nem se basta nas 99 ovelhas que o ouviram e o seguiram. O bom pastor é aquele que dando a falta de uma, instrui e guarda com o amor as outras 99, mas não deixa de ir atrás daquela uma que certamente teve motivos para ficar à parte. Não... ele vai ter com ela, ele olha para ela, cuida do que precisa ser cuidado e aprende de si na medida em que cuida daquela. Talvez pra que seja ouvido por todos, precisa chamar diferente, num tempo diferente, com um carinho diferente e até exercendo sua autoridade de modo diferente. Mas sempre com amor...
Não é fácil ser pastor. Mas se nos permitirmos sermos humanos e não mais do que nossas forças nos dão, talvez enxerguemos a importância de deixar de lado a perfeição que apenas mostra, pra vivermos o amor de uma forma muito maior e verdadeira do que só a aparente.



*o verbo está no plural por uma questão simbólica que vem do entendimento do autor de que a Igreja são as pessoas e não o templo físico

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A IGREJA E A MANIA DE INCUTIR CULPA: Eles não percebem que o errado é dito humano e que quem erra tem prazer em se culpar

A igreja não tem autoridade pra dizer o que é certo ou o que é errado, o que deve ser punido ou o que deve ser perdoado.
As igrejas evangélicas parecem gostar de se afirmarem diferentes de sua irmã (ou mãe), Igreja Católica, mas não são tão diferentes assim. E, em ao menos um ponto, elas são muito parecidas: na pregação da culpa. Há até uma expressão que apesar de injusta (ou até ingênua) acabou se propagando que é a “culpa católica”.
Se pensarmos bem, quase todo evangélico tem essa culpa católica, mas para não termos problema, vamos chamar de “culpa evangélica”. A igreja enquanto órgão institucionalizado tem um estatuto e toda uma sorte de regras, muitas das quais, pregam – muitas vezes com crença pia – serem regras “divinas”.
A partir do momento que a pregação ganha esses contornos “divinais”, mais forte é a doutrinação que se faz da necessidade de se respeitar cada uma dessas regras e, inevitável, maior é a seriedade propalada a respeito da quebra de quaisquer desses dogmas.
E como tem dogma nas igrejas.
Muito embora o próprio Paulo de Tarso, autodeclarado apóstolo de Jesus Cristo e o maior propagador da mensagem cristã, homem de letras e instruído em filosofia greco-romana tenha dito que “tudo ‘me’ é lícito, mas nem tudo ‘me’ convém”, em algum momento da história a(s) Igreja(s) sentiu-se no direito de ser o “poder legiferante” de Deus na Terra. Ao seu alvedrio, passou a incutir uma mensagem de renúncias e restrições à que as pessoas deveriam se submeter se quisessem estar próximas de Deus.
Nada mais “antipauliano” do que isso. Ora, Paulo chama o pronome de primeira pessoa para dizer que o que não convinha que se fizesse era pessoal dele. Ele sabe o que não lhe convinha, mas não se atreveu a dizer que o que não lhe convinha, também não convinha ao outro. Tanto que, em outra passagem bastante conhecida dos cristãos, o próprio Paulo recomenda que “examine-se o homem a si mesmo”.  Ou seja, por mais próxima que a pessoa possa ser de Deus, ela não está autorizada a dizer em nome de Deus o que outro alguém deve ou não fazer, mas apenas cuidar de si.
Só que isso parece ser pedir demais.
A igreja, tal qual o pai e a mãe da criança que começa a engatinhar no mundo, com medo de que aquele imberbe vá além de seu controle e desbrave fronteiras para além de suas vistas, prefere proibir qualquer audácia. Com medo de que a pessoa faça algo “diferente”, tende a proibir que faça qualquer coisa que não seja passível de ser penitente.
E incute culpa. Muita culpa.
Em pouco tempo, a pessoa doutrinada por textos fora de contextos e por elocubrações viciadas pelas crenças desses “pregadores”, começa a se sentir devedora por ter ousado ser quem ela é. Sim, porque a igreja não incentiva que a pessoa se descubra, antes, sempre que possível, ela exerce uma castração que impede que a pessoa seja a sua própria evolução.
O que desde nascido está sob “os cuidados” dessa igreja, desde antes de suas primeiras memórias já recebe toda uma catequização cheia de certos e errados que lhe acompanharão ao longo da sua vida e lhe farão eco mesmo quando já decidido a não mais ouvi-los. Serão sempre um barulho que não se calará, enquanto aquele que adere à igreja após crescido, recebe uma lavagem cerebral (sob a fantasia de espiritual), de modo a abandonar quem ele é desde a sua essência até a sua superfície, sob pena de não alcançar a verdadeira redenção.
A igreja castra e segue castrando. Por analogia, seria dizer que o nascido é “circuncidado” desde que nasce e o que adere precisa se deixar “circuncidar”.
O que parecem não entender é que quanto mais um homem controla a sua agressividade para com o exterior (seu impulso, seja libidinal ou outro), mais severo e agressivo ele se torna para consigo e essa agressividade tem consequências. Na medida em que a Igreja castra dentro de suas portas, seus adeptos (fiéis até certo ponto) ao mesmo tempo são obrigados a conviverem com suas humanidades e com tudo que diz respeito a ser humano. Recebem a cartilha do “certo e errado”, teoria perfeita para uma prática cheia de acidentes. E esses “acidentes” acontecem o tempo inteiro – e de propósito!
De repente, sem que se deem conta, a culpa passa a ser atraente. A culpa gera o remorso que, por sua vez, não tem a intensidade necessária para fazer com que a pessoa deixe de fazer. Sentindo-se culpada, ela acaba se sentindo próxima do Deus zeloso que lhe “instiga” a consciência para que ela não se perca o que lhe acaba autorizando pensar que se (mesmo fazendo) Deus ainda fala com ela, significa que o fazer não faz tão mal assim. E daí a pessoa goza em se equilibrar entre os prazeres do que é feito e o prazer da culpa experimentada naquilo que fez.
Tudo isso dura até o momento em que a sua verdade vem a tona e ela precisa lidar com suas consequências. Nesse instante ela, na ânsia por se manter aceita por aquela comunidade que lhe “julga divinamente”, corre em apontar a culpa para o outro que não ajudou a igreja a lhe frear os impulsos (não foi isso que Adão fez com Eva?). Descoberta dando mais vazão ao seu desejo do que à sua renúncia, a pessoa tende a fingir um arrependimento que nunca teve (porque instigada para tanto). Repito: remorso não é arrependimento, é mecanismo de prazer (o eterno confronto entre o "Id" e "Superego", deixando o "Ego" doidinho, doidinho).
Mas então, vem seu pastor ou seu ministério e lhe oferece a absolvição que nunca fez questão – e que qualquer pessoa mais racional sabe que não precisa – sentindo-se impune (e impunível, inimputável), aberta a se concentrar de volta no prazer que nunca deixará de ter: pecar e tornar a pecar, sentindo culpa porque até na culpa é possível gozar.
Mas vem cá: será que existe mesmo esse negócio de pecar?

domingo, 21 de setembro de 2014

“Descompreendendo” Deus para voltar a amar o homem

Esse é o texto de abertura desse blog que vou usar de meu próprio púlpito de pregação da minha própria teologia.
De início, cumpre se lembrar – pra quem ainda não o sabe – que sou um crítico. De que? De quase tudo. Ocorre que há aquelas críticas que a gente faz com base no que estuda, há aquelas críticas que a gente faz com base no que ouve e aquelas críticas que a gente faz com base no que vê.
Algumas das minhas críticas somam essas 03 razões.
Nasci, fui criado, batizado e atuante na igreja Assembleia de Deus. Neto de pastor presidente de grandes campos, já acumulo muitos anos em um meio que aprendi a conhecer bem. Além disso, estudei, me formei, graduei, pós-graduei e li. Amei o conhecimento e por me assombrar com o alcance da sabedoria, nunca duvidei que ela fosse fruto de quem é Deus.
Mas quem é Deus? Não sei...
O que Deus pensa? Também não sei...
O que Deus quer? Sei tampouco...
E esse é o ponto: assim como eu não sei, ninguém realmente sabe. Deus é algo tão “louco” no sentido de uma existência tão acima de cada um de nós, que é impossível qualquer pessoa, numa ínfima existência que não dura mais do que 100 anos, possa afirmar que sabe quem Ele é, o que Ele pensa ou  o que Ele espera ou quer.
De Deus nós – os que nele cremos – podemos saber que Ele é eterno, onipotente, onipresente e onisciente e também, com base nas nossas experiências de vida, podemos saber o que Ele fez por nós e que são coisas tão maravilhosas, que nos é permitido ter a fé enquanto certeza de que Ele, por sua condição, pode, inclusive, fazer “infinitamente mais do que pedimos ou pensamos”.
Sim. Do que pensamos... talvez aqui esteja o maior equívoco dos homens que se querem fiéis seguidores desse Deus cuja ciência está infinitamente além do que nós podemos alcançar. O homem, na sua tentativa desesperada de entender a Deus, acaba humanizando Deus. O homem “oferece a Deus” características humanas como a raiva, a ira, a revolta, o revanchismo, o ímpeto assassino. Mas, ao mesmo tempo em que o homem prega um Deus que é amor e justo, não se constrange em dizer que se você comete um erro em meio a 99 acertos, terá por destino a danação eterna. E o pior, no mais das vezes, quem escolhe qual é esse “erro” que condena o homem, é o próprio homem que acha que entende o que Deus quer ou quem Deus é.
A Bíblia, um dos livros que apresentam Deus ao mundo, chega a apresentar alguns trechos em que Deus busca facilitar ao homem a compreensão, não de quem Deus é, mas do pouco que nós homens somos: “Quem mediu as águas na concha da mão (...)Na verdade as nações são como a gota que sobra do balde; para ele são como o pó que resta na balança; para ele as ilhas não passam de um grão de areia. (...)Ele se assenta no seu trono, acima da cúpula da terra, cujos habitantes são pequenos como gafanhotos. (...)’Com quem vocês me compararão? Quem se assemelha a mim?’, pergunta o Santo. (...)Ergam os olhos e olhem para as alturas. Quem criou tudo isso? Aquele que põe em marcha cada estrela do seu exército celestial, e a todas chama pelo nome...” (vide aqui a íntegra de Isaías 40). 
Não seria mais interessante se os homens parassem de tentar entender quem é o Deus que eles não alcançam e empreendessem esse mesmo esforço em entenderem a si mesmos? Não seria melhor que ao invés de querermos entender o ininteligível, entendêssemos uns aos outros? Ao invés de ficar medindo o comportamento alheio e condenando-o com uma lei criada por homens que acham que sabem qual é a lei de Deus, não seria mais digno nos ombrearmos a fim de dividir o peso do fardo que nós mesmos impomos uns aos outros?
Vejo as igreja preocupadas em pregar mais a salvação do que o pecado. Em alertar mais a “última hora da vida”, do que a vida vivida até a sua última hora. Vejo igrejas com discursos de ódio, de guerra, de uma retidão fingida e, pra piorar, vejo que quanto mais se prega a demagogia, mais os espectadores demagogos levantam a mão e bradam “glórias” e “aleluias” a fim de (espero que inconscientemente #sqn) parecerem mais santos e mais justos e justificados que os outros.
Não erra quem fala que e a igreja é a comunidade em que mais prepondera a hipocrisia. Nela, muitos pensam, mas têm medo de pensar; muitos questionam, mas são admoestados a só aceitar; e tantos outros lutam para que não precisem pensar e, assim, não sejam responsabilizados por simplesmente ousarem discordar.
E o resultado disso são pessoas cada vez mais amarguradas, angustiadas, tantas vezes achando que são piores do que aquelas que são piores do que elas, mas disfarçam melhor. O resultado disso, também é um grupo de pessoas que se afasta de Deus porque não enxerga o amor na igreja. Vê um chamando ao outro de irmão, mas não sabem chorar junto, não sabem ouvir, não sabem nem mesmo orar com quem precisa ou por quem precisa, ao passo que parecem estar sempre ávidos por atirarem a primeira pedra.
Talvez um dia as pessoas que frequentam aquelas quatro paredes chamadas de igreja entendam que elas é quem são a igreja e não a construção edificada. Entendam que Deus está no coração e não no altar. Que a palavra de Deus é dita diretamente a quem precisa ouvir, não porque outra pessoa disse, mas porque Deus sabe como falar. Deus fala na natureza, no rádio, na tv, no cinema. O canto dos pássaros é a voz de Deus, o cair da chuva é presença de Deus, a brisa que refresca ou o vento que empurra, tudo é Deus, porque tudo nasce de uma criação coordenada por Deus.
Talvez um dia as igrejas entendam que os homens erram e que não faz sentido acreditar que Deus espera que o homem não erre, nem que faz sentido acreditar que Deus acredita ou espera  algo já que não temos como pensar nem como um deus, muito menos como O Deus.
Quando entendermos que errar é viver e viver é errar e aceitarmos que não existe ser perfeito e que o prazer não foi feito pra negar, talvez entendamos que se Deus é amor, pode ser que a única coisa que precisemos fazer por nós mesmos é amar.
No mais, Fernando Pessoa narrou bem o que parecem os crentes na maioria das igrejas. Leia aqui.