Quem tenho
eu no céu senão a ti? e na terra não há quem eu deseje além de ti. (...) Mas
para mim, bom é aproximar-me de Deus; pus a minha confiança no Senhor Deus, para
anunciar todas as suas obras. (Salmos 73:25;28)
Muitas vezes me perguntam por que
eu ainda vou à igreja se frequentemente me deparo com algo com que não
concordo. Talvez esse texto explique ao menos um pouco.
O Salmo 73 (que você pode ler
completo aqui) é, por certo, um dos mais conhecidos dos 150 salmos. Não tanto
na sua integralidade, mas certamente pela parte em que, ainda no início, Asafe
(autor desse Salmo), confessa que quase se desviou do caminho de servo de seu
Deus por sentir inveja da prosperidade dos “néscios” – aqui entendidos aqueles
que renegavam, desconheciam, desprezavam ao “Deus de Israel”.
Mas que momento maravilhoso é nos
narra ao relembrar: “Quando pensava em
entender isto, foi para mim muito doloroso; até que entrei no santuário de
Deus; então entendi eu o fim deles.” (16-17).
Antes de maiores reflexões, é
importante que saibamos quem foi Asafe. Em seu livro “Quem é quem na Bíblia”,
Paul Gardner[1]
nos traz as seguintes informações:
Juntamente com Hemã e Etã foi nomeado pelo rei Davi como responsável
pelos cânticos na casa do Senhor (1 Cr 6.31-40). Era levita, filho de Berequias
e nomeado como principal cantor quando a Arca foi levada para Jerusalém e em
várias outras ocasiões, quando havia festas nacionais (1 Cr 15.17-19);
16.5,7,37; 2 Cr 35.15). Ele liderou os louvores, juntamente com outros levitas,
quando o Templo foi consagrado pelo rei Salomão (2 Cr 5.12).
Sua influência musical estendeu-se muito além do serviço do Templo, até o
livro de cânticos dos judeus, onde permaneceu por todos os tempos. Seu nome é
encontrado no título de doze salmos, para indicar que provavelmente são parte
de uma cantata, composta por ele ou para ele (Sl 50;73 a 83). Esses Salmos
figuravam entre os cânticos durante o avivamento nos tempos do rei Ezequias (2
Cr 29.30). Na época do retorno do exílio babilônico, os cantores do Templo eram
referidos apenas como “filhos de Asafe” (Ed 2.41; Ne 7.44; 11.17, etc).
Essa nota biográfica vem com o
intuito de mostrar a relevância da figura do autor desse Salmo. Asafe era o
principal do seu ofício de cantor do templo, ou seja, o principal levita, o
principal músico adorador de seu tempo e, mesmo assim, mesmo experimentando
diferentes formas do agir da glória e do poder de Deus, pensou em desviar o seu
caminho porque invejou aqueles que eram ricos à custa do trabalho alheio, da
soberba, da violência, desdenhosos que eram de um Deus de quem afirmavam: “como o sabe Deus? Há conhecimento no
Altíssimo?”(11) e, pro seu espanto, quanto mais agiam dessa forma, mais
pareciam prosperar.
Asafe era humano e como humano
que era, lhe parecia difícil entender os desígnios de Deus para a vida dos que
o buscam. Não lhe parecia certo que os que de Deus blasfemavam parecessem mais
virtuosos e bem sucedidos ao passo que ele e tantos outros, dedicados ao
serviço a esse Deus passavam dores e apertos e castigos e aflições.
Quantas e quantas vezes não nos
vemos na mesma condição de Asafe? Vemos sonegadores, corruptos, homicidas, estelionatários,
adúlteros, caluniadores e autores de tantas condutas reprováveis parecerem
imunes à qualquer tipo de correção e então questionamos: “Deus não os vê?” E,
então, ato contínuo nos pegamos a pensar: “se Deus não os vê ou se os vê, talvez
Ele não se importe, também não dará conta se agir como eles a fim de me fazer
rico assim”. Num instante de falta de vigilância nos pegamos imaginando toda
uma série de ardis que poderíamos perpetrar a fim de nos locupletarmos a
contento. Nesse instante parecemos, inclusive, esquecer quem é o Deus a quem
nos demos e que tanto já nos deu.
E daí nós vemos a importância que
é nos aproximarmos de Deus e quão necessário é nos dirigirmos ao espaço onde se
reúnem em Seu nome e Ele se faz presente à percepção de todos quanto o buscam
verdadeiramente. Talvez não tivesse entrado no Templo pra cumprir seu serviço e
prestar seu culto, o final de Asafe não teria sido de honras como sua biografia
aponta, mas sim, como ele mesmo apontou, tivesse caído na desolação, quase num
momento totalmente consumido de terrores e acordando de um sonho sabendo que
sua aparência era desprezível e desprezada pelo Deus que um dia tivera sido o
seu Deus.
Mas ele entrou no Templo, entrou no
santuário de Deus e ali ele entendeu o que precisava entender e eis que, então,
declara com a autoridade de quem revestido da presença do Altíssimo por tantos
desprezado: “(...) estou de contínuo
contigo; tu me sustentaste pela minha mão direita. Guiar-me-ás com o teu
conselho, e depois me receberás na glória. Quem tenho eu no céu senão a ti? e
na terra não há quem eu deseje além de ti.” (23-25).
Esse é o segredo de se estar na
igreja. Não porque Deus ali habita, porque Ele mesmo disse que não, mas é
porque ali, ouvindo dEle e das maravilhas que Ele fez, faz e continuará sabendo,
nosso coração vai se enchendo e se renovando de uma esperança que não é vã e
assim como Abraão, dando a glória a Deus, vamos sendo fortificados na nossa fé
(Rm 4.20), enquanto cantamos e afirmamos: “Maranata! Ora vem, Senhor Jesus”.
[1] GARDNER,
Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada/Paul Gardner; tradução Josué Ribeiro. São
Paulo: Editora Vida, 2005. – Título origina: The Complete Who’s who in the
Bible.
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