quarta-feira, 11 de março de 2015

Homossexuais também louvam a Deus (e até que me provem o contrário, homossexuais são parte da criação de Deus)

Não estou nem um pouco disposto a vir com aquele papo preconceituoso de “Deus ama o homossexual, mas abomina a homossexualidade”. Tampouco eu – como, ao que me parece, ninguém – tenho condição de dizer se a homossexualidade é condição genética ou não. A única coisa que tenho certeza – porque vejo por aí – é que a homossexualidade é um fato e, portanto, é real, seja pela razão que for.
Dito isso, gostaria de pedir ao leitor heterossexual ou “indiferentessexual” que tentemos por 1 segundo nos aproximarmos do “pensamento” da pessoa homossexual. Enquanto um grupo de fanáticos e outro de maldosos ficam sugerindo que o homossexualismo é uma condição reversível ou opcional, o que o homossexual sabe é que nasceu assim e ser assim é ser quem ele é. É parte de sua essência. Digo isso porque não me é estranho o costume que muitos têm de – lamentavelmente – verem os homossexuais como aberrações que deturpam em põem em cheque a perfeição da criação divina. E nas igrejas isso acontece demais.
Há uma tendência de se pregar que Deus fez "apenas macho e fêmea”, aparentemente tendo-lhes designada a condição de só sentirem atração por seu oposto, de modo que a homossexualidade deve ter alguma relação com o “diabo” e seu plano de afastar o homem de Deus. Isso é péssimo.
Faço essas considerações iniciais porque gostaria que você pensasse que assim como é natural pra você sentir atração pelo sexo oposto e, com isso, você se sente “normal”, pro homossexual é natural sentir atração pelo mesmo sexo e, com isso, ele também se sente “normal”.
Em assim, sendo, gostaria de participar uma reflexão que tive durante um evento, digamos, de cunho religioso.
A certa altura da celebração, cantavam-se hinos e, enquanto os hinos eram cantados, notei um rapaz assumidamente homossexual, com seus olhos fechados, face elevada à direção do céu, parecendo bastante compenetrado enquanto dava voz para aquela oração musicada, apresentando um comportamento próprio dos que se sentem próximos de Deus e amado por Ele.
Na mesma hora me peguei pensando em Caim e Abel. Não. Não passei a acreditar que essa história é real. Continuo achando consequência da tendência de se contar histórias de pai pra filho nas tribos daquela região, como forma de se fortalecer a cultura em tempos anteriores à escrita. Lendas. No entanto, lembro que em se tratando do que narra a história, Abel apresentou seu sacrifício com o coração de quem queria agradar a Deus com o que ofertava, ao passo que Caim apenas foi “cumprir uma obrigação”, sem qualquer prazer ou preocupação em agradar a Deus.
A partir desse paralelo, fiquei pensando em quantos são os heterossexuais que estão “cumprindo tabela” quando de seus cultos a Deus e quantos devem ser os homossexuais que estão aproveitando suas chances para enaltecer o nome desse Deus, agradecendo-o por todas as grandes coisas que Ele vem fazendo por si. E também me peguei refletindo se, porventura, esses têm mais chance de agradarem o coração de Deus do que os que acham que sua voz testifica mais do que seu coração.
Ora, por favor. Não queiramos curar o homossexual e nem preguemos contra ele de qualquer forma que não se mostre sábia e certa. E principalmente: jamais oponhamos qualquer resistência para que, cada um a seu modo, sinta-se livre para adorar ao seu Deus. Não digamos que somos salvos e eles não e nem cheguemos a sugerir que “Deus lhes pode curar”. Não sabemos tanto assim de Deus para que digamos com certeza o que Deus vai ou não “aceitar”.
E, por fim, ainda penso: se o meu coração se alegrou ao ver aquele jovem de olhos fechados apresentando Seu louvor a Deus, quanto mais deve ter se alegrado o coração de Deus que está sempre procurando quem realmente lhe adore? (e não quem só pareça ser o mais correto a lhe adorar).
E você pode até querer falar que o pecado afasta a pessoa de Deus. Mas eu creio que se o pecado afasta, o louvor comove e aproxima. Caso contrário, nenhum de nós teríamos direito de apresentar nada a Deus. Apenas nossos constantes pedidos de um perdão que já nos foi concedido na morte de cruz.


ps.: sinto-me no dever de colocar que a Bíblia também não deixa de ser produto de seu tempo e onde se revelam as ideologias de seus subscritores. Tenhamos cuidado para não confundir o que era a crença de quem escreve com o que era, de fato, palavra vinda direto de Deus.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A sabedoria e a alegria de se estar na presença de Deus

Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário.  (Salmos 51:6-12)
É porque “a recíproca é verdadeira”: a ausência de Deus é causa de ausência de alegria. Lógico que os que não se ocupam de pensar ou querer agradar a Deus não deixam de ter seus momentos de alegria, mas há uma alegria diferente que vem do conhecer e conviver mais próximo de Deus.
O Salmo 51 nos mostra a profundida do autoconhecimento de Davi e do conhecimento dele a respeito de Deus e do que Deus poderia lhe proporcionar. Sabendo-se autor de um pecado gravíssimo (ter mandado Urias à guerra pra que ali morresse e Davi desposasse Bate-Seba), Davi reconhece a sua dependência da presença de Deus e Lhe suplica: “não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito”.
Davi foi testemunha ocular do quão terrível foi para Saul perder a comunhão com o Espírito de Deus e quantos foram seus assombros quando se viu lançado fora da presença divina. Davi sabia, então, que poderia perder tudo quanto tivesse, mas que não poderia perder essa comunhão e então pede pela misericórdia divida para que a sua vida se renovasse e ele pudesse, com a sabedoria e com o perdão que lhe viriam da parte de Deus, ele voltaria a ser feliz de novo.
Muitas vezes nós não entendemos a ausência de contentamento que experimentamos na nossa vida. Sentimos dor, angústia, tristeza e muitas vezes dizemos que não sabemos porque já que não parece haver motivo para que não estejamos bem. No mais das vezes, o vazio que sentimos e não entendemos é o que tem a ser preenchido pela presença real e viva do Deus todo poderoso.
Se nos apresentarmos perante Deus, pedirmos perdão pelas nossas transgressões, que Ele preencha o vazio que a sua falta nos causa e que Ele nos dê a sabedoria para conduzirmos nossas vidas com o coração mais puro possível, certamente descobriremos a paz e a alegria de fazer o bem, retribuir com o bem, com a melhor porção de nós para os que nos rodeiam e enxergam – em nós – alguém que vive na comunhão com um Deus que sustém por Seu amor.
Não é possível se presumir viver uma vida sem erros, sem desvios, sem pecado, mas é possível se querer viver uma vida mais próxima daquilo que Deus espera de nós. Para isso, basta que nos queiramos mais próximos dEle, O recebamos mais perto de nós e nos preocupemos em lembrar que Ele tudo sabe e tudo vê, que o pecado lhe ofende, mas ofende menos do que a vontade que move o pecado consciente, aquele pecado que não se importa de pecar.
Não é o pecado que nos afasta de Deus e, consequentemente, nos faz mais triste. O que nos afasta de Deus e nos faz mais tristes e menos sábios é como convivemos com o nosso pecado. Se acharmos que pecar é normal e não tem problema e, então, continuarmos pecando pelo prazer que o pecado traz, estaremos mais distantes de Deus (porque nos pusemos longe). Mas se confessamos o nosso pecado (a Deus e não aos homens ou à igreja) e apresentamos um coração dolorido por esse pecado arrependido, então seremos mais forte, mais sábios, mais limpos e mais de Deus. E se somos de Deus, somos melhores pra nós e pra quem nos cerca, já que santificados na Sua santidade.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A questão da ansiedade

Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica com ações de graças. (Filipenses 4:6-7)
Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos confins da terra, não se cansa nem se fatiga? E inescrutável o seu entendimento. Ele dá força ao cansado, e aumenta as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os mancebos cairão, mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças; subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; andarão, e não se fatigarão. (Isaías 40:28-31)

Estamos cada vez mais ansiosos no nosso dia a dia. As demandas da vida parecem nos acossar e escravizar na medida em que não há o que pareça suficiente e nem há sentido em se contentar com o que já se tem. A partir disso, cada vez nos ocupamos menos do agora pra ficarmos projetando um futuro que é muito provável que não atingiremos. E tememos.
O medo do futuro é um dos piores medos. Não saber se poderá dar conforto à família, se poderá se casar, comprar uma casa, ter um bom meio de transporte, uma boa formação que garanta um bom emprego e que permita isso tudo, faz com que ansiemos que o futuro chegue para que enfim saibamos o que aconteceu (e nem tanto o que acontecerá). Ficamos ilhados num “espaço-tempo” que corre mais rápido do que a própria pressa. Mas que não chega...
Não é isso que Deus espera de quem crê nEle.
Ao longo de toda a Bíblia (alguns creem que ela traz todas as verdades, outros creem que ela traz ensinamentos preciosos), Deus deixa claro o cuidado que Ele tem com a humanidade. Ele deixa claro que espera que os homens descansem sua ansiedade nEle e entendam que Ele conhece o tempo perfeito. Deus não se apressa e nem se atrasa, mas em todo o tempo Ele é preciso.
Ao longo da minha vida, aprendi – mais de uma dezena de vezes – que os meus temores e ansiedades eram o que me faziam humanos, mas que a minha confiança de que todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus é o que me fazia “mais do que vencedor”. Também aprendi que não precisava esperar “um recado” de Deus dizendo “ouvi tua oração”. Bastava saber que as minhas orações sempre são ouvidas e esperar o momento em que o que eu pedi acontecia. E tudo quanto precisei e esperei, obtive.
Alguém poderia dizer que estou desconsiderando ter feito por onde, desconsiderando meu próprio esforço. Mas não. Estou é me referindo a situações em que orei e disse a Deus: “preciso que a solução chegue a mim” e no meio de um fim de semana em que dormia, o telefone tocou e ela veio a partir da procura de quem não podia nem esperar. Deus sabe quando precisa chegar e quando precisamos que Ele chegue.
Deus guarda os meus caminhos, meus projetos, minha vida e está comigo mesmo quando as coisas não saem como eu quero que saia. Mas sei que as coisas sempre sairão como Ele espera que seja, porque Ele sabe de todas as coisas e, então, eu não preciso temer o tempo, a decisão, a dificuldade ou a angústia. Deus vela por mim, assim como vela por cada um de nós que se coloca na posição de esperar Dele o que Ele tem pra conceder.
De nossa parte, basta que saibamos esperar nEle e sermos gratos por cada “Sim”, por cada “Não” e por casa “Espere”. Deus não é uma ilusão e nem está morto. Deus vive porque é Eterno, não tosqueneja, não descansa e nem fica na dúvida do que fazer. Mas a gente pode deitar a cabeça, fechar os olhos e no que não depende de nós, apenas esperar. Porque se Deus é o que Deus que tudo pode e não tem dúvida, nós podemos ser de um Deus em quem não perdemos por confiar.
Quando preciso, Ele sempre proverá e nada nos faltará.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A Fé de Deus no Homem (e a razão da providência da nossa redenção)

Porque o que eu temia me veio, e o que receava me aconteceu. (...) Direi a Deus: não me condenes; faze-me saber por que contendes comigo. (...)Se eu pecar, tu me observas; e da minha iniquidade não me escusarás. (...)Quem não entende por todas estas coisas que a mão do Senhor fez isto, que está na sua mão a alma de tudo quanto vive, e o espírito de toda carne humana? (...) Eis que clamo: Violência! Mas não sou ouvido; grito: Socorro! Mas não há justiça. O meu caminho ele entrincheirou, e não posso passar; e nas minhas veredas pôs trevas. (...) Quebrou-me de todos os lados, e eu me vou; e arrancou a minha esperança, como a uma árvore. (...) Os meus parentes me deixaram, e os meus conhecidos se esqueceram de mim. (...) Compadecei-vos de mim, amigos meus, compadecei-vos de mim, porque a mão de Deus me tocou. (...) Quem me dera, agora, que as minhas palavras se escrevessem! Quem me dera que se gravassem num livro! E que, com pena de ferro e com chumbo, para sempre fossem esculpidas na rocha! Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros, o verão; e, por isso, o meu coração se consome dentro de mim. (...) Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos. (Jó 3:25; 10:14; 12:9-10; 19: 7-8, 10, 14, 21, 23-27 e 42:5)
Sempre ouvimos dizer que precisamos ter fé em Deus, mas não é comum que pensemos que Deus também tem a Sua fé em cada um de nós.
Não há consenso se Jó foi uma pessoa real ou a reiteração de um expediente bastante presente na Bíblia, qual seja, a ilustração da relação de Deus para com o homem e do homem para com Deus através da parábola.
No entanto, assim como se analisa o ciúme de Otelo, a vingança de Medeia, a traição de Capitu, o dia de Ulysses ou a traição de Madame Bovary, podemos analisar Jó, tanto sob a ótica do simbolismo por detrás da personagem, como a partir da sua potencial humanidade e seguiremos por essa premissa.
A história nos mostra Jó sendo sujeitado a uma provação terrível a partir de uma aposta entre Deus e o “diabo”. O diabo insinuara que Jó só era o homem mais fiel a Deus entre todos os homens porque Deus lhe fizera próspero, mas que se Jó nada tivesse, voltar-se-ia contra Deus e provaria que seu amor não era desinteressado. Deus, então, permite que o diabo tire tudo quanto Jó possuía, não lhe permitindo, apenas, tirar-lhe a própria vida. Foi então que num mesmo dia Jó perdeu todo o seu rebanho, toda sua riqueza e todos os seus filhos, mas ele não se voltou contra Deus. O diabo então insinua que assim o foi porque ele ainda gozava de saúde, tendo lhe sido permitido tirar a saúde de Jó que passou a sofrer de uma chaga tão forte e sofrida, que precisava usar cacos de vidro para se coçar. E até nesse momento Jó glorificou o nome de Deus, que foi quem tudo lhe dera e, então, era quem tudo podia lhe tirar.
Antes de mais nada, a fim de que não se faça qualquer confusão, cumpre que se diga que Deus não estava jogando com a vida de Jó, tampouco era indiferente a ela. Quando Deus permite que se ponha Jó a tamanha e terrível prova, o recado que Ele dá – seja ao diabo, seja a Jó, seja a mim ou a você – é de que Ele confia no homem e na sua capacidade de amá-lO.
Que coisa maravilhosa! Não somos apenas nós que temos fé em Deus. Deus também tem fé em cada um de nós e sabe que podemos lhe ser fieis em quaisquer circunstâncias que se nos apresentarem, por mais terríveis que sejam, porque achamos nEle a nossa redenção e a chave que nos muda o cativeiro.
Jó, experimentado em alegrias e agora em dores, ouve acusações e reprimendas de seus amigos. Seus amigos! Tendo ouvido a desdita de Jó, dirigiram-se a ele e encontrando-o desfigurado, deprimido e empobrecido, ficaram em silêncio durante 07 dias, tentando entender em que pecara aquele homem sempre tido por tão justo (de modo que até oferecia sacrifício em nome dos filhos) que justificasse sofrer tamanho opróbio. Tentavam entender Jó, porque no seu entendimento, Deus só poderia estar castigando Jó – talvez por ter se achado resto, justo e íntegro demais.
E daí aprendemos uma outra valiosíssima lição: não importa o quanto nossos amigos ou demais membros da nossa comunidade religiosa pensem saber a respeito de nossa vida ou do Deus em que acreditamos, eles nunca estarão perto da verdade e muitas vezes não devemos dar ouvidos nem mesmo àqueles que querem nos ajudar. Eles pouco sabem sobre nós e menos ainda, por mais que creiam o contrário, sabem sobre os propósitos de Deus para conosco.
A redenção de Jó era questão de tempo porque mesmo nos seus momentos de mais depressão e de maior amargura, ele continuava certo de que Deus não erra e que as Suas mãos estavam sobre a vida de Jó, ainda que fosse para cobrá-lo ou castiga-lo e, fosse pela razão que fosse, enquanto Deus estivesse em Sua vida, o seu final seria de glória ou na Glória do seu Senhor.
A retidão e a justiça de Jó vinham de tudo quanto lhe fora ensinado a respeito da natureza e da grandeza do Deus de seus pais e de seu povo, mas após experimentar o conhecimento real do TUDO que Deus pode realizar, Jó, mais íntimo de Deus, testifica com seu corpo, sua alma e seu espírito que Ele é Deus que tudo pode e bom é esse Seu poder.
Deus amava Jó como Deus ama toda a humanidade e assim como redimira Jó ao tempo em que Jó apesar de toda dor sentia seu coração se aquecer na esperança de que com seus próprios olhos veria seu Redentor se erguer para mudar-lhe a sorte e viu, todos nós recebemos diariamente essa mesma oportunidade. Todos nós temos a chance de assistirmos o levantar do nosso Redentor e com os nossos olhos assistirmos quão boas são as bênçãos que nos tem reservado por causa do Seu amor e do Seu poder.
Sejamos sinceros, retos e tementes a Deus como Jó, não lhe maldizendo na angústia e nem esquecendo dEle na fartura, mas sabendo que não importa o que nos aconteça, bendito é Ele e o Seu nome de geração em geração para sempre.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Há como ter paz (?)

Na verdade sei que assim é; porque, como se justificaria o homem para com Deus? (...) Ele é sábio de coração, e forte em poder; quem se endureceu contra Ele, e teve paz? (Jó 9:2 e 4)

Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus. (Filipenses 4:6-7)

Nos dois versículos que servem de epígrafe ao presente texto, antepomos duas situações. Em uma, quem fala questiona sobre não ter paz, ao passo que no segundo, exorta a que confiemos na paz.
No primeiro caso a discussão vinha sobre a possibilidade do homem achar que Deus fora injusto para com ele e, assim, procurar lhe falar para questionar a decisão de que se sente vítima. Resignado, Jó se apressa em dizer que não tem a presunção de pôr a prova a onisciência divina, nem voltar-se contra Seus desígnios, mas que apenas gostaria de ter a chance de entender o porquê de ter sofrido perdas tão dolorosas de uma hora para outra. Na verdade, tudo o que Jó gostaria era a chance de pedir que se trouxesse a luz o que estava encoberto.
De outro lado, Paulo – já conhecendo o redentor que Jó aguardava e lhe veio – exorta a que estejamos em paz em qualquer situação que se nos apresente, porque colocando a nossas necessidades a Deus, Ele mesmo se encarregará de aliviar as nossas aflições enquanto aguardamos o melhor momento para obtermos a nossa resposta ou o bom entendimento de tudo quanto nos sucedera.
À soma das duas assertivas, podemos entender o quanto perdemos questionando a existência, a bondade e as decisões de Deus o próprio salmista, a certa altura, chega a dizer que Sua ciência é maravilhosíssima, tão alta que não a podia atingir, de maneira que tentarmos atingir  a mente de Deus é perdermos a nossa paz, porque é Ele quem perscruta nossas mentes e nosso coração e não nós ao que é dEle. Ao mesmo tempo, quando entendemos que há amor, propósito e justiça na sua forma de lidar conosco ou retribuir as nossas atitudes, resignados de que, para usar o bardo e não o frade “há mais mistérios entre os céus e a terra do que supõe a nossa vã filosofia” e que, portanto, é inútil querer o sentido e a resposta numa vida tão curta pra muito do que é milenar, também entendemos que as nossas orações são sempre ouvidas.
Ouvida, mas não necessariamente atendidas na sua totalidade. Nem sempre sabemos pedir e nem sempre pedimos o que é o melhor para nós e é aí que Paulo tira sua ideia de que não devemos nos inquietar por coisa alguma, na medida em que Deus que sabe e que pode todas as coisas, atento a tudo que lhe pedimos – e é até mesmo como sinal de humildade que devemos, sim, pedir, ainda que presumindo que Ele sabe de tudo, ao invés de acharmos que Ele tem o dever de fazer por conta própria – nos dará a paz que vem da comunhão com a Sua santidade, que nos faz entender – sem que muitas vezes entendamos o porquê – que tudo caminhará bem.
Contender com Deus traz enfado, ansiedade, revolta, tristeza e dor; já para todos quanto em Deus confiam, confiar em Deus traz paz.
Se é possível ter paz? Para quem lança seus anseios a Deus e lhe é grato por tudo quanto faz, é mais do que possível, é viver segundo sua fé e segundo a verdade experimentada em sua vida e em seu coração. Vale arriscar?

sábado, 7 de fevereiro de 2015

O que envolve a chamada "Santa Ceia"

Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. (1 Coríntios 11:25-31)

Daqui a alguns minutos me dirigirei à igreja onde será celebrado (ou ministrado) o que alguns cristão tomam por sacramento e outros como “apenas” um culto mais “célebre”, a que se convencionou chamar “Santa Ceia”.
A Bíblia é um conjunto de livros de onde é possível se extrair diferentes simbologias, mas parece que a Santa Ceia, a exemplo da Páscoa e da festa dos pães asmos, está entre aqueles mais objetivos e determinantes, na medida em que a sua realização é um pedido crístico.
Sim, o próprio Jesus às vésperas da traição de Judas requerera de seus discípulos que repetissem aquele ato em sua memória até que chegasse o momento de seu retorno e, então – e desde então –, as diferentes igrejas que professam o cristianismo adotam esse ritual como forma de recordar o sacrifício de Cristo em nome da redenção dos pecados da humanidade.
Esse ritual, como se sugere, é recorrente, segundo a predileção de cada doutrina, sendo que alguns o celebram semanalmente, outros mensalmente, outros anualmente e muitos até diariamente.
Coube a Paulo de Tarso, autonomeado o “13º apóstolo de Jesus Cristo”, impor certos limites e estabelecer a forma em que deveria se dar esse culto “mais especial”, principalmente porque recebera notícias de que o povo de Corinto não o praticava com o intuito maior de relembrar o sacrifício de Cristo, mas sim, com desídia e desleixo, como se ajuntassem para um piquenique num jardim.
Paulo apresenta para a igreja daquela cidade grega as suas considerações a respeito dessa celebração memorial da doação de Cristo de seu corpo, seu sangue e sua vida para a redenção dos nossos pecados e é a partir das considerações de Paulo que eu pretendo, agora, apresentar as minhas considerações:
O primeiro ponto é entendermos que Paulo, estudioso e devoto do Cristo que lhe apareceu a caminho de Damasco, se arvora na condição de professor e não de legislador. Paulo não se investe e nem fora investido na condição de regente e nem de regrador da igreja cristã (da mesma forma que, a contrário do que se convencionou crer em alguns meios, Pedro também não o foi). O que Paulo faz é advertir a igreja segundo a sua crença a partir da necessidade que sente de agir em face dos abusos que vinham sendo cometidos ali.
Ora, se o intento de Paulo fosse impor um dogmatismo universal daquilo que se desenhava como o Cristianismo, suas epístolas trariam, rigorosamente, as mesmas admoestações, ao invés de serem cada qual direcionadas e confeccionadas para igrejas específicas com dúvidas ou práticas específicas.
Assim, Paulo apresenta a sua forma de pensar e sugere uma forma de ser. Ele não determina uma forma de se viver.
Digo isso porque os fiéis de suas igrejas tendem a receber uma carga muito grande no tempo em que se antecede a celebração dessa “ceia”. Por força do costume, não raro veem-se temendo as “promessas” de sofrimento, de dor, de doença e de morte em razão de participarem da “santa ceia” sem o devido preparo, sem a devida consagração.
Lembremos sempre – e já se disse isso aqui em outro texto – que a cidade de Corinto tinha os templos de seus deuses como local de encontro para toda sorte de sordidez carnal, sendo um local em que as pessoas iam para se embebedar, deitarem-se umas com as outras e ali permanecerem no encontro das lascívias individuais, tudo isso lhes parecendo certo, mas errado aos olhos de Paulo e dos que lhe escreveram pesarosos.
O dever de consagração é inerente a todos quanto queiram manter uma vida próxima de Deus, não se restringindo a uma semana específica em razão de um fato específico. Mas o objetivo dessa reunião não é separar o joio do trigo ou o puro do impuro. Dá mesma forma que não era para as pessoas se celebrarem entre si para, com o coração voltado ao sofrimento de Cristo, relembrarem o objetivo maior da pregação do Evangelho que é fazer o mundo saber que Ele se deu em nosso lugar, mas ressuscitado, foi assunto ao céu, e de lá recebe as nossas ações de graça em memória de Si.
Paulo parece entender que o desprezo que os corintos pareciam nutrir ao ato de amor do messias é que era a causa de seu sofrimento e é como se ele lhes dissessem: “examinem-se! Antes de comerem do pão que simboliza seu corpo partido e beberem do cálice que simboliza seu sangue derramado, façam um exame de consciência e vejam o quanto vocês são verdadeiramente gratos a isso e o quanto esse ato é de fato importante pra vocês e, se conseguirem se sentir gratos ao que Ele nos fez, então, coma desse pão e beba desse cálice”.
Não há qualquer proibição de participação da ceia em razão de terem cometido algum dito pecado. Não. Pecados são cometidos o tempo todo e ninguém mais do que Deus sabe disso. A mim parece que a Deus não importa como pecamos, mas como reagimos e convivemos com o nosso pecado. Se nos alegramos no pecado, entristecemos e nos afastamos de Deus; se o pecado nos entristece e nos quebranta, Deus o esquecerá. Daí que penso que a preocupação de Paulo estava em fazer com que os corintos ganhassem consciência de que a “ceia” é menos festa e mais reflexão. Uma reflexão que, bem feita, reafirmará e renovará nosso sentimento de gratidão.

Vem cear! E que Deus seja para conosco.