quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

A sabedoria e a alegria de se estar na presença de Deus

Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário.  (Salmos 51:6-12)
É porque “a recíproca é verdadeira”: a ausência de Deus é causa de ausência de alegria. Lógico que os que não se ocupam de pensar ou querer agradar a Deus não deixam de ter seus momentos de alegria, mas há uma alegria diferente que vem do conhecer e conviver mais próximo de Deus.
O Salmo 51 nos mostra a profundida do autoconhecimento de Davi e do conhecimento dele a respeito de Deus e do que Deus poderia lhe proporcionar. Sabendo-se autor de um pecado gravíssimo (ter mandado Urias à guerra pra que ali morresse e Davi desposasse Bate-Seba), Davi reconhece a sua dependência da presença de Deus e Lhe suplica: “não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito”.
Davi foi testemunha ocular do quão terrível foi para Saul perder a comunhão com o Espírito de Deus e quantos foram seus assombros quando se viu lançado fora da presença divina. Davi sabia, então, que poderia perder tudo quanto tivesse, mas que não poderia perder essa comunhão e então pede pela misericórdia divida para que a sua vida se renovasse e ele pudesse, com a sabedoria e com o perdão que lhe viriam da parte de Deus, ele voltaria a ser feliz de novo.
Muitas vezes nós não entendemos a ausência de contentamento que experimentamos na nossa vida. Sentimos dor, angústia, tristeza e muitas vezes dizemos que não sabemos porque já que não parece haver motivo para que não estejamos bem. No mais das vezes, o vazio que sentimos e não entendemos é o que tem a ser preenchido pela presença real e viva do Deus todo poderoso.
Se nos apresentarmos perante Deus, pedirmos perdão pelas nossas transgressões, que Ele preencha o vazio que a sua falta nos causa e que Ele nos dê a sabedoria para conduzirmos nossas vidas com o coração mais puro possível, certamente descobriremos a paz e a alegria de fazer o bem, retribuir com o bem, com a melhor porção de nós para os que nos rodeiam e enxergam – em nós – alguém que vive na comunhão com um Deus que sustém por Seu amor.
Não é possível se presumir viver uma vida sem erros, sem desvios, sem pecado, mas é possível se querer viver uma vida mais próxima daquilo que Deus espera de nós. Para isso, basta que nos queiramos mais próximos dEle, O recebamos mais perto de nós e nos preocupemos em lembrar que Ele tudo sabe e tudo vê, que o pecado lhe ofende, mas ofende menos do que a vontade que move o pecado consciente, aquele pecado que não se importa de pecar.
Não é o pecado que nos afasta de Deus e, consequentemente, nos faz mais triste. O que nos afasta de Deus e nos faz mais tristes e menos sábios é como convivemos com o nosso pecado. Se acharmos que pecar é normal e não tem problema e, então, continuarmos pecando pelo prazer que o pecado traz, estaremos mais distantes de Deus (porque nos pusemos longe). Mas se confessamos o nosso pecado (a Deus e não aos homens ou à igreja) e apresentamos um coração dolorido por esse pecado arrependido, então seremos mais forte, mais sábios, mais limpos e mais de Deus. E se somos de Deus, somos melhores pra nós e pra quem nos cerca, já que santificados na Sua santidade.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A questão da ansiedade

Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica com ações de graças. (Filipenses 4:6-7)
Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos confins da terra, não se cansa nem se fatiga? E inescrutável o seu entendimento. Ele dá força ao cansado, e aumenta as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os mancebos cairão, mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças; subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; andarão, e não se fatigarão. (Isaías 40:28-31)

Estamos cada vez mais ansiosos no nosso dia a dia. As demandas da vida parecem nos acossar e escravizar na medida em que não há o que pareça suficiente e nem há sentido em se contentar com o que já se tem. A partir disso, cada vez nos ocupamos menos do agora pra ficarmos projetando um futuro que é muito provável que não atingiremos. E tememos.
O medo do futuro é um dos piores medos. Não saber se poderá dar conforto à família, se poderá se casar, comprar uma casa, ter um bom meio de transporte, uma boa formação que garanta um bom emprego e que permita isso tudo, faz com que ansiemos que o futuro chegue para que enfim saibamos o que aconteceu (e nem tanto o que acontecerá). Ficamos ilhados num “espaço-tempo” que corre mais rápido do que a própria pressa. Mas que não chega...
Não é isso que Deus espera de quem crê nEle.
Ao longo de toda a Bíblia (alguns creem que ela traz todas as verdades, outros creem que ela traz ensinamentos preciosos), Deus deixa claro o cuidado que Ele tem com a humanidade. Ele deixa claro que espera que os homens descansem sua ansiedade nEle e entendam que Ele conhece o tempo perfeito. Deus não se apressa e nem se atrasa, mas em todo o tempo Ele é preciso.
Ao longo da minha vida, aprendi – mais de uma dezena de vezes – que os meus temores e ansiedades eram o que me faziam humanos, mas que a minha confiança de que todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus é o que me fazia “mais do que vencedor”. Também aprendi que não precisava esperar “um recado” de Deus dizendo “ouvi tua oração”. Bastava saber que as minhas orações sempre são ouvidas e esperar o momento em que o que eu pedi acontecia. E tudo quanto precisei e esperei, obtive.
Alguém poderia dizer que estou desconsiderando ter feito por onde, desconsiderando meu próprio esforço. Mas não. Estou é me referindo a situações em que orei e disse a Deus: “preciso que a solução chegue a mim” e no meio de um fim de semana em que dormia, o telefone tocou e ela veio a partir da procura de quem não podia nem esperar. Deus sabe quando precisa chegar e quando precisamos que Ele chegue.
Deus guarda os meus caminhos, meus projetos, minha vida e está comigo mesmo quando as coisas não saem como eu quero que saia. Mas sei que as coisas sempre sairão como Ele espera que seja, porque Ele sabe de todas as coisas e, então, eu não preciso temer o tempo, a decisão, a dificuldade ou a angústia. Deus vela por mim, assim como vela por cada um de nós que se coloca na posição de esperar Dele o que Ele tem pra conceder.
De nossa parte, basta que saibamos esperar nEle e sermos gratos por cada “Sim”, por cada “Não” e por casa “Espere”. Deus não é uma ilusão e nem está morto. Deus vive porque é Eterno, não tosqueneja, não descansa e nem fica na dúvida do que fazer. Mas a gente pode deitar a cabeça, fechar os olhos e no que não depende de nós, apenas esperar. Porque se Deus é o que Deus que tudo pode e não tem dúvida, nós podemos ser de um Deus em quem não perdemos por confiar.
Quando preciso, Ele sempre proverá e nada nos faltará.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A Fé de Deus no Homem (e a razão da providência da nossa redenção)

Porque o que eu temia me veio, e o que receava me aconteceu. (...) Direi a Deus: não me condenes; faze-me saber por que contendes comigo. (...)Se eu pecar, tu me observas; e da minha iniquidade não me escusarás. (...)Quem não entende por todas estas coisas que a mão do Senhor fez isto, que está na sua mão a alma de tudo quanto vive, e o espírito de toda carne humana? (...) Eis que clamo: Violência! Mas não sou ouvido; grito: Socorro! Mas não há justiça. O meu caminho ele entrincheirou, e não posso passar; e nas minhas veredas pôs trevas. (...) Quebrou-me de todos os lados, e eu me vou; e arrancou a minha esperança, como a uma árvore. (...) Os meus parentes me deixaram, e os meus conhecidos se esqueceram de mim. (...) Compadecei-vos de mim, amigos meus, compadecei-vos de mim, porque a mão de Deus me tocou. (...) Quem me dera, agora, que as minhas palavras se escrevessem! Quem me dera que se gravassem num livro! E que, com pena de ferro e com chumbo, para sempre fossem esculpidas na rocha! Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros, o verão; e, por isso, o meu coração se consome dentro de mim. (...) Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos. (Jó 3:25; 10:14; 12:9-10; 19: 7-8, 10, 14, 21, 23-27 e 42:5)
Sempre ouvimos dizer que precisamos ter fé em Deus, mas não é comum que pensemos que Deus também tem a Sua fé em cada um de nós.
Não há consenso se Jó foi uma pessoa real ou a reiteração de um expediente bastante presente na Bíblia, qual seja, a ilustração da relação de Deus para com o homem e do homem para com Deus através da parábola.
No entanto, assim como se analisa o ciúme de Otelo, a vingança de Medeia, a traição de Capitu, o dia de Ulysses ou a traição de Madame Bovary, podemos analisar Jó, tanto sob a ótica do simbolismo por detrás da personagem, como a partir da sua potencial humanidade e seguiremos por essa premissa.
A história nos mostra Jó sendo sujeitado a uma provação terrível a partir de uma aposta entre Deus e o “diabo”. O diabo insinuara que Jó só era o homem mais fiel a Deus entre todos os homens porque Deus lhe fizera próspero, mas que se Jó nada tivesse, voltar-se-ia contra Deus e provaria que seu amor não era desinteressado. Deus, então, permite que o diabo tire tudo quanto Jó possuía, não lhe permitindo, apenas, tirar-lhe a própria vida. Foi então que num mesmo dia Jó perdeu todo o seu rebanho, toda sua riqueza e todos os seus filhos, mas ele não se voltou contra Deus. O diabo então insinua que assim o foi porque ele ainda gozava de saúde, tendo lhe sido permitido tirar a saúde de Jó que passou a sofrer de uma chaga tão forte e sofrida, que precisava usar cacos de vidro para se coçar. E até nesse momento Jó glorificou o nome de Deus, que foi quem tudo lhe dera e, então, era quem tudo podia lhe tirar.
Antes de mais nada, a fim de que não se faça qualquer confusão, cumpre que se diga que Deus não estava jogando com a vida de Jó, tampouco era indiferente a ela. Quando Deus permite que se ponha Jó a tamanha e terrível prova, o recado que Ele dá – seja ao diabo, seja a Jó, seja a mim ou a você – é de que Ele confia no homem e na sua capacidade de amá-lO.
Que coisa maravilhosa! Não somos apenas nós que temos fé em Deus. Deus também tem fé em cada um de nós e sabe que podemos lhe ser fieis em quaisquer circunstâncias que se nos apresentarem, por mais terríveis que sejam, porque achamos nEle a nossa redenção e a chave que nos muda o cativeiro.
Jó, experimentado em alegrias e agora em dores, ouve acusações e reprimendas de seus amigos. Seus amigos! Tendo ouvido a desdita de Jó, dirigiram-se a ele e encontrando-o desfigurado, deprimido e empobrecido, ficaram em silêncio durante 07 dias, tentando entender em que pecara aquele homem sempre tido por tão justo (de modo que até oferecia sacrifício em nome dos filhos) que justificasse sofrer tamanho opróbio. Tentavam entender Jó, porque no seu entendimento, Deus só poderia estar castigando Jó – talvez por ter se achado resto, justo e íntegro demais.
E daí aprendemos uma outra valiosíssima lição: não importa o quanto nossos amigos ou demais membros da nossa comunidade religiosa pensem saber a respeito de nossa vida ou do Deus em que acreditamos, eles nunca estarão perto da verdade e muitas vezes não devemos dar ouvidos nem mesmo àqueles que querem nos ajudar. Eles pouco sabem sobre nós e menos ainda, por mais que creiam o contrário, sabem sobre os propósitos de Deus para conosco.
A redenção de Jó era questão de tempo porque mesmo nos seus momentos de mais depressão e de maior amargura, ele continuava certo de que Deus não erra e que as Suas mãos estavam sobre a vida de Jó, ainda que fosse para cobrá-lo ou castiga-lo e, fosse pela razão que fosse, enquanto Deus estivesse em Sua vida, o seu final seria de glória ou na Glória do seu Senhor.
A retidão e a justiça de Jó vinham de tudo quanto lhe fora ensinado a respeito da natureza e da grandeza do Deus de seus pais e de seu povo, mas após experimentar o conhecimento real do TUDO que Deus pode realizar, Jó, mais íntimo de Deus, testifica com seu corpo, sua alma e seu espírito que Ele é Deus que tudo pode e bom é esse Seu poder.
Deus amava Jó como Deus ama toda a humanidade e assim como redimira Jó ao tempo em que Jó apesar de toda dor sentia seu coração se aquecer na esperança de que com seus próprios olhos veria seu Redentor se erguer para mudar-lhe a sorte e viu, todos nós recebemos diariamente essa mesma oportunidade. Todos nós temos a chance de assistirmos o levantar do nosso Redentor e com os nossos olhos assistirmos quão boas são as bênçãos que nos tem reservado por causa do Seu amor e do Seu poder.
Sejamos sinceros, retos e tementes a Deus como Jó, não lhe maldizendo na angústia e nem esquecendo dEle na fartura, mas sabendo que não importa o que nos aconteça, bendito é Ele e o Seu nome de geração em geração para sempre.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Há como ter paz (?)

Na verdade sei que assim é; porque, como se justificaria o homem para com Deus? (...) Ele é sábio de coração, e forte em poder; quem se endureceu contra Ele, e teve paz? (Jó 9:2 e 4)

Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus. (Filipenses 4:6-7)

Nos dois versículos que servem de epígrafe ao presente texto, antepomos duas situações. Em uma, quem fala questiona sobre não ter paz, ao passo que no segundo, exorta a que confiemos na paz.
No primeiro caso a discussão vinha sobre a possibilidade do homem achar que Deus fora injusto para com ele e, assim, procurar lhe falar para questionar a decisão de que se sente vítima. Resignado, Jó se apressa em dizer que não tem a presunção de pôr a prova a onisciência divina, nem voltar-se contra Seus desígnios, mas que apenas gostaria de ter a chance de entender o porquê de ter sofrido perdas tão dolorosas de uma hora para outra. Na verdade, tudo o que Jó gostaria era a chance de pedir que se trouxesse a luz o que estava encoberto.
De outro lado, Paulo – já conhecendo o redentor que Jó aguardava e lhe veio – exorta a que estejamos em paz em qualquer situação que se nos apresente, porque colocando a nossas necessidades a Deus, Ele mesmo se encarregará de aliviar as nossas aflições enquanto aguardamos o melhor momento para obtermos a nossa resposta ou o bom entendimento de tudo quanto nos sucedera.
À soma das duas assertivas, podemos entender o quanto perdemos questionando a existência, a bondade e as decisões de Deus o próprio salmista, a certa altura, chega a dizer que Sua ciência é maravilhosíssima, tão alta que não a podia atingir, de maneira que tentarmos atingir  a mente de Deus é perdermos a nossa paz, porque é Ele quem perscruta nossas mentes e nosso coração e não nós ao que é dEle. Ao mesmo tempo, quando entendemos que há amor, propósito e justiça na sua forma de lidar conosco ou retribuir as nossas atitudes, resignados de que, para usar o bardo e não o frade “há mais mistérios entre os céus e a terra do que supõe a nossa vã filosofia” e que, portanto, é inútil querer o sentido e a resposta numa vida tão curta pra muito do que é milenar, também entendemos que as nossas orações são sempre ouvidas.
Ouvida, mas não necessariamente atendidas na sua totalidade. Nem sempre sabemos pedir e nem sempre pedimos o que é o melhor para nós e é aí que Paulo tira sua ideia de que não devemos nos inquietar por coisa alguma, na medida em que Deus que sabe e que pode todas as coisas, atento a tudo que lhe pedimos – e é até mesmo como sinal de humildade que devemos, sim, pedir, ainda que presumindo que Ele sabe de tudo, ao invés de acharmos que Ele tem o dever de fazer por conta própria – nos dará a paz que vem da comunhão com a Sua santidade, que nos faz entender – sem que muitas vezes entendamos o porquê – que tudo caminhará bem.
Contender com Deus traz enfado, ansiedade, revolta, tristeza e dor; já para todos quanto em Deus confiam, confiar em Deus traz paz.
Se é possível ter paz? Para quem lança seus anseios a Deus e lhe é grato por tudo quanto faz, é mais do que possível, é viver segundo sua fé e segundo a verdade experimentada em sua vida e em seu coração. Vale arriscar?

sábado, 7 de fevereiro de 2015

O que envolve a chamada "Santa Ceia"

Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. (1 Coríntios 11:25-31)

Daqui a alguns minutos me dirigirei à igreja onde será celebrado (ou ministrado) o que alguns cristão tomam por sacramento e outros como “apenas” um culto mais “célebre”, a que se convencionou chamar “Santa Ceia”.
A Bíblia é um conjunto de livros de onde é possível se extrair diferentes simbologias, mas parece que a Santa Ceia, a exemplo da Páscoa e da festa dos pães asmos, está entre aqueles mais objetivos e determinantes, na medida em que a sua realização é um pedido crístico.
Sim, o próprio Jesus às vésperas da traição de Judas requerera de seus discípulos que repetissem aquele ato em sua memória até que chegasse o momento de seu retorno e, então – e desde então –, as diferentes igrejas que professam o cristianismo adotam esse ritual como forma de recordar o sacrifício de Cristo em nome da redenção dos pecados da humanidade.
Esse ritual, como se sugere, é recorrente, segundo a predileção de cada doutrina, sendo que alguns o celebram semanalmente, outros mensalmente, outros anualmente e muitos até diariamente.
Coube a Paulo de Tarso, autonomeado o “13º apóstolo de Jesus Cristo”, impor certos limites e estabelecer a forma em que deveria se dar esse culto “mais especial”, principalmente porque recebera notícias de que o povo de Corinto não o praticava com o intuito maior de relembrar o sacrifício de Cristo, mas sim, com desídia e desleixo, como se ajuntassem para um piquenique num jardim.
Paulo apresenta para a igreja daquela cidade grega as suas considerações a respeito dessa celebração memorial da doação de Cristo de seu corpo, seu sangue e sua vida para a redenção dos nossos pecados e é a partir das considerações de Paulo que eu pretendo, agora, apresentar as minhas considerações:
O primeiro ponto é entendermos que Paulo, estudioso e devoto do Cristo que lhe apareceu a caminho de Damasco, se arvora na condição de professor e não de legislador. Paulo não se investe e nem fora investido na condição de regente e nem de regrador da igreja cristã (da mesma forma que, a contrário do que se convencionou crer em alguns meios, Pedro também não o foi). O que Paulo faz é advertir a igreja segundo a sua crença a partir da necessidade que sente de agir em face dos abusos que vinham sendo cometidos ali.
Ora, se o intento de Paulo fosse impor um dogmatismo universal daquilo que se desenhava como o Cristianismo, suas epístolas trariam, rigorosamente, as mesmas admoestações, ao invés de serem cada qual direcionadas e confeccionadas para igrejas específicas com dúvidas ou práticas específicas.
Assim, Paulo apresenta a sua forma de pensar e sugere uma forma de ser. Ele não determina uma forma de se viver.
Digo isso porque os fiéis de suas igrejas tendem a receber uma carga muito grande no tempo em que se antecede a celebração dessa “ceia”. Por força do costume, não raro veem-se temendo as “promessas” de sofrimento, de dor, de doença e de morte em razão de participarem da “santa ceia” sem o devido preparo, sem a devida consagração.
Lembremos sempre – e já se disse isso aqui em outro texto – que a cidade de Corinto tinha os templos de seus deuses como local de encontro para toda sorte de sordidez carnal, sendo um local em que as pessoas iam para se embebedar, deitarem-se umas com as outras e ali permanecerem no encontro das lascívias individuais, tudo isso lhes parecendo certo, mas errado aos olhos de Paulo e dos que lhe escreveram pesarosos.
O dever de consagração é inerente a todos quanto queiram manter uma vida próxima de Deus, não se restringindo a uma semana específica em razão de um fato específico. Mas o objetivo dessa reunião não é separar o joio do trigo ou o puro do impuro. Dá mesma forma que não era para as pessoas se celebrarem entre si para, com o coração voltado ao sofrimento de Cristo, relembrarem o objetivo maior da pregação do Evangelho que é fazer o mundo saber que Ele se deu em nosso lugar, mas ressuscitado, foi assunto ao céu, e de lá recebe as nossas ações de graça em memória de Si.
Paulo parece entender que o desprezo que os corintos pareciam nutrir ao ato de amor do messias é que era a causa de seu sofrimento e é como se ele lhes dissessem: “examinem-se! Antes de comerem do pão que simboliza seu corpo partido e beberem do cálice que simboliza seu sangue derramado, façam um exame de consciência e vejam o quanto vocês são verdadeiramente gratos a isso e o quanto esse ato é de fato importante pra vocês e, se conseguirem se sentir gratos ao que Ele nos fez, então, coma desse pão e beba desse cálice”.
Não há qualquer proibição de participação da ceia em razão de terem cometido algum dito pecado. Não. Pecados são cometidos o tempo todo e ninguém mais do que Deus sabe disso. A mim parece que a Deus não importa como pecamos, mas como reagimos e convivemos com o nosso pecado. Se nos alegramos no pecado, entristecemos e nos afastamos de Deus; se o pecado nos entristece e nos quebranta, Deus o esquecerá. Daí que penso que a preocupação de Paulo estava em fazer com que os corintos ganhassem consciência de que a “ceia” é menos festa e mais reflexão. Uma reflexão que, bem feita, reafirmará e renovará nosso sentimento de gratidão.

Vem cear! E que Deus seja para conosco.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Todas as coisas me são lícitas, mas...

Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma. (1 Coríntios 6:12-13)
Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam. (1 Coríntios 10:23-24)
Ao analisarmos os escritos de Paulo é sempre pertinente lembrar que Paulo foi um judeu de cidadania romana, mas que estudou com o principal rabino de sua época, tendo, certamente, tido acesso a muitos dos ensinamentos da filosofia greco-romana.
Isso por si só já é motivo para observarmos com bastante atenção seus escritos, que apesar de didáticos não são dos mais simplórios. Pelo contrário. Em suas epístolas, Paulo nos apresenta uma filosofia bastante avançada e daí sou eu que creio que isso se dá em razão de seus estudos e de seu tempo. Mas são escritos que chegam ao nosso tempo e com força maior do que qualquer eco de pensamentos passados.
Uma das maiores dificuldades que as pessoas parecem encontrar quando o assunto é estarem ou permanecerem na igreja é a série de restrições que as diferentes instituições opõem aos que lhe são frequentadores. Algumas são movidas pelas melhores intenções quando pensam que ajudam seus seguidores a trilharem um caminho reto aos olhos de Deus, ao passo que para muitas outras, basta o prazer sádico da dominação pela dominação.
Paulo não se impõe. Paulo se mostra.
Ao longo de todas as suas narrativas, de seus conselhos, de cada momento em ele apresenta aquilo que ele crê, ele se coloca como alguém que sofre das mesmas aflições que os destinatários de suas cartas e não como alguém que está acima dele. Ao mesmo tempo em que ele faz questão de afirmar que tira suas forças das experiências que tinha de Deus e das constantes orações que fazia, inclusive tendo um pedido que não fora atendido, mas que serviu para que ele fosse consolado.
Por sua vida, Paulo aprendeu a crer e confiar num Deus que não lhe desamparou em qualquer momento difícil e que foi o grande responsável quando o que ele teve era a medida exata do que precisava ter e é justamente por ter conhecido a grandeza do amor e dos cuidados divinos para consigo e sabendo quão pecador também era (até chegou a se chamar de o principal dos pecadores em correspondência com Timóteo - 1 Tm 1.15), que Paulo entendeu que se é que Deus se importa com o que fazemos, mais importante para Ele – Deus – parece ser o porquê fazemos e para quem fazemos.
E daí Paulo apresenta a sua moral, a sua crença, a sua forma de ver e viver e, em momento algum aparece nos dizendo o que não podemos fazer. Não. A recomendação mais forte que Paulo parece nos fazer é que quer comêssemos, quer bebêssemos, quer fizéssemos quaisquer coisas, que fosse sempre para Deus em nome de sua glória (1 Co 10.31) . Tudo nEle, por Ele e para Ele (Rm 11.36).
Não devemos nos preocupar com o que nos proíbem. Eles sabem o que lhes servem, porque creram que receberam sua mudança da parte de Deus, da mesma forma que o mesmo Deus nos fará saber o que precisamos para ser que podemos até obtermos o que teremos mesmo que antes não merecêssemos.
A nossa consciência é o nosso parâmetro e se estivermos ligados em Deus, não precisaremos de ninguém que nos diga o que não devemos fazer, porque no fim, desde que eu entenda que assumirei as consequências, Deus me dá a liberdade para eu fazer o que quiser. Mas isso não quer dizer que toda a minha vontade será minha pronta realidade, até porque, se eu creio num Deus que tudo vê, preciso pensar muito bem naquilo que me permitirei fazer.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Uma vida com Deus*

É difícil deixar de acreditar que Deus ajuda sim e que de uma forma ou de outra ele coopera pelo bem dos que Ele ama. É aí que me pego pensando em Davi. Ele acreditava que Deus o ajudaria a vencer Golias e por isso o desafiou e sabia que ele não teria tempo pra mais do que uma pedra e mesmo crendo em Deus e que seria com aquele lançamento primeiro que ele mataria o gigante, ele pegou 05 pedras porque ele era humano, apesar de ser “o homem segundo o coração de Deus”, ele era homem e como homem tinha medo, porque confiar em Deus não é ser desprovido de medo, ter fé não é ter que ter certeza e não ter dúvidas.
E David pegou as 05 pedras e graças a Deus, acertou na primeira. Esse mesmo Davi que nunca saia pra uma batalha sem consultar a Deus primeiro e que quando saiu por conta foi humilhado
Cada qual naquilo que foi chamado, foi o recado de Samuel pra Saul quando ele disse: tem o senhor mais prazer em sacrifícios do que em que obedeçam a sua palavra? Melhor é obedecer que sacrificar. O prazer maior de Deus e os meus anos de vida e tudo quanto eu já vi acontecendo me fazem pensar e crer que o prazer dEle não está em levantarmos e reunirmos um pouco de força pra tolerar duas horas de um culto, mas de saber que nós tomamos nossas decisões na certeza de que - conforme Ele mesmo falou pra Josué - onde quer que tocarmos a planta dos nossos pés, ali será nosso e será abençoado; que conforme Ele falou para Abraão, onde nossas vistas alcançarem e os nossos sonhos chegarem, nós sabemos que Ele pode fazer acontecer. E não importa que o outro escolheu os campos verdes e você a terra deserta, porque até do deserto Deus é capaz de fazer brotar água e saciar o sedento, como fez com Hagar e Ismael.
Gosto quando Paulo fala que aprendeu tanto a ter abundância como a passar necessidade, porque nessas coisas e em todas as maneiras, ele aprendeu que poderia todas as coisas desde que sujeito à graça e ao amor daquele que o fortalece.
Um relacionamento íntimo com Deus não está nas privações a que você se sujeita, nem na quantidade de horas que você passa de joelhos, mas no quanto ele é verdadeiramente fundamental na sua vida como um todo e não só naquele momento.
É a confiança de que ainda que tudo esteja ruim, não há nada que não possa reverter e nisso nós temos o exemplo de Jó.
Ainda que não tenhamos a casa no Morumbi, temos aquilo que é nosso e quando nós nos dermos conta de que isso é bom, que é sorte nossa de tê-lo, e darmos graças a Deus pelo, que nós temos, ao invés de questionarmos o porquê de não termos algo melhor, aí nós estaremos entendendo o que Deus espera da gente, nada mais que gratidão.
Eu demorei pra entender o ditado que desde pequeno eu ouço da da minha avó: quem não agradece o pouco, o que dirá do muito? Eu pensava: mas no muito que eu vou agradecer, mas não é verdade, a gente acaba sempre querendo mais... e esquece de agradecer pelo que tem; pela roupa que veste ou pelo carro que anda enquanto tantos ficam no ponto de ônibus, na chuva. Pela carne que come, enquanto muitos não têm nem arroz.
E a tudo isso – e por tudo isso - devemos dar graças a Deus
Por podermos ir ao médico quando doentes sem precisarmos enfrentar filas nos corredores porque é uma condição que se temos, é graças a Deus e, a medida que aprendemos a agradecer o pouco, estaremos prontos para recebermos o muito.
Sendo Jesus o filho de Deus (ou menso um homem muito sábio como crêem alguns), ele deixou muitos ensinamentos simples: Deus não se importa com o tanto que você ora, nem com o tanto que você dá de oferta, nem se você dá o seu dízimo. O que importa para Deus é saber o quanto Ele é importante para mim, o quanto ele é importante para você. Ou não foi isso que ele quis saber de Abraão ao pedir o sacrifício de Isaque?
Abraão cria em Deus. Cria na promessa de que mesmo velho teria um filho de sua descendência se faria uma grande nação. Quando Deus lhe exige seu filho em sacrifício e ele o leva sem que levasse consigo nenhum cordeiro (prática da época) o fazia sempre crendo que no momento certo Deus providenciaria o animal a ser sacrificado e pouparia o sacrifício de seu filho, mas que, se não providenciasse, Deus traria Isaque dos mortos se preciso porque havia uma promessa, uma promessa de que ele seria o pai de uma grande nação e em romanos fala que dando glória a deus, Abraão foi se fortalecendo na fé.
E também não foi a toa que a oferta da viúva se destacou dentre a dos fariséus. Ela só tinha aquela moeda e foi aquela moeda que ela ofertou a Deus.
O segredo da verdadeira adoração a Deus, e isso é o que penso eu, é sermos verdadeiramente agradecidos e no mais veremos a resposta, afinal, a promessa que se fez foi para todos nós.
Então, se você tem plano e precisa de uma estratégia, faça como Davi: duvide, pergunte e você saberá.

Não há mal algum em se testar a Deus, porque essa é a melhor forma de aprender com Seu agir.


Originalmente escrito em 19/11/2009 e publicado no blog O Trovante.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A importância de sempre ir à igreja e ali reviver a grandeza de Deus

Quem tenho eu no céu senão a ti? e na terra não há quem eu deseje além de ti. (...) Mas para mim, bom é aproximar-me de Deus; pus a minha confiança no Senhor Deus, para anunciar todas as suas obras. (Salmos 73:25;28)

Muitas vezes me perguntam por que eu ainda vou à igreja se frequentemente me deparo com algo com que não concordo. Talvez esse texto explique ao menos um pouco.
O Salmo 73 (que você pode ler completo aqui) é, por certo, um dos mais conhecidos dos 150 salmos. Não tanto na sua integralidade, mas certamente pela parte em que, ainda no início, Asafe (autor desse Salmo), confessa que quase se desviou do caminho de servo de seu Deus por sentir inveja da prosperidade dos “néscios” – aqui entendidos aqueles que renegavam, desconheciam, desprezavam ao “Deus de Israel”.
Mas que momento maravilhoso é nos narra ao relembrar: “Quando pensava em entender isto, foi para mim muito doloroso; até que entrei no santuário de Deus; então entendi eu o fim deles.” (16-17).
Antes de maiores reflexões, é importante que saibamos quem foi Asafe. Em seu livro “Quem é quem na Bíblia”, Paul Gardner[1] nos traz as seguintes informações:
Juntamente com Hemã e Etã foi nomeado pelo rei Davi como responsável pelos cânticos na casa do Senhor (1 Cr 6.31-40). Era levita, filho de Berequias e nomeado como principal cantor quando a Arca foi levada para Jerusalém e em várias outras ocasiões, quando havia festas nacionais (1 Cr 15.17-19); 16.5,7,37; 2 Cr 35.15). Ele liderou os louvores, juntamente com outros levitas, quando o Templo foi consagrado pelo rei Salomão (2 Cr 5.12).
Sua influência musical estendeu-se muito além do serviço do Templo, até o livro de cânticos dos judeus, onde permaneceu por todos os tempos. Seu nome é encontrado no título de doze salmos, para indicar que provavelmente são parte de uma cantata, composta por ele ou para ele (Sl 50;73 a 83). Esses Salmos figuravam entre os cânticos durante o avivamento nos tempos do rei Ezequias (2 Cr 29.30). Na época do retorno do exílio babilônico, os cantores do Templo eram referidos apenas como “filhos de Asafe” (Ed 2.41; Ne 7.44; 11.17, etc).
Essa nota biográfica vem com o intuito de mostrar a relevância da figura do autor desse Salmo. Asafe era o principal do seu ofício de cantor do templo, ou seja, o principal levita, o principal músico adorador de seu tempo e, mesmo assim, mesmo experimentando diferentes formas do agir da glória e do poder de Deus, pensou em desviar o seu caminho porque invejou aqueles que eram ricos à custa do trabalho alheio, da soberba, da violência, desdenhosos que eram de um Deus de quem afirmavam: “como o sabe Deus? Há conhecimento no Altíssimo?”(11) e, pro seu espanto, quanto mais agiam dessa forma, mais pareciam prosperar.
Asafe era humano e como humano que era, lhe parecia difícil entender os desígnios de Deus para a vida dos que o buscam. Não lhe parecia certo que os que de Deus blasfemavam parecessem mais virtuosos e bem sucedidos ao passo que ele e tantos outros, dedicados ao serviço a esse Deus passavam dores e apertos e castigos e aflições.
Quantas e quantas vezes não nos vemos na mesma condição de Asafe? Vemos sonegadores, corruptos, homicidas, estelionatários, adúlteros, caluniadores e autores de tantas condutas reprováveis parecerem imunes à qualquer tipo de correção e então questionamos: “Deus não os vê?” E, então, ato contínuo nos pegamos a pensar: “se Deus não os vê ou se os vê, talvez Ele não se importe, também não dará conta se agir como eles a fim de me fazer rico assim”. Num instante de falta de vigilância nos pegamos imaginando toda uma série de ardis que poderíamos perpetrar a fim de nos locupletarmos a contento. Nesse instante parecemos, inclusive, esquecer quem é o Deus a quem nos demos e que tanto já nos deu.
E daí nós vemos a importância que é nos aproximarmos de Deus e quão necessário é nos dirigirmos ao espaço onde se reúnem em Seu nome e Ele se faz presente à percepção de todos quanto o buscam verdadeiramente. Talvez não tivesse entrado no Templo pra cumprir seu serviço e prestar seu culto, o final de Asafe não teria sido de honras como sua biografia aponta, mas sim, como ele mesmo apontou, tivesse caído na desolação, quase num momento totalmente consumido de terrores e acordando de um sonho sabendo que sua aparência era desprezível e desprezada pelo Deus que um dia tivera sido o seu Deus.
Mas ele entrou no Templo, entrou no santuário de Deus e ali ele entendeu o que precisava entender e eis que, então, declara com a autoridade de quem revestido da presença do Altíssimo por tantos desprezado: “(...) estou de contínuo contigo; tu me sustentaste pela minha mão direita. Guiar-me-ás com o teu conselho, e depois me receberás na glória. Quem tenho eu no céu senão a ti? e na terra não há quem eu deseje além de ti.” (23-25).
Esse é o segredo de se estar na igreja. Não porque Deus ali habita, porque Ele mesmo disse que não, mas é porque ali, ouvindo dEle e das maravilhas que Ele fez, faz e continuará sabendo, nosso coração vai se enchendo e se renovando de uma esperança que não é vã e assim como Abraão, dando a glória a Deus, vamos sendo fortificados na nossa fé (Rm 4.20), enquanto cantamos e afirmamos: “Maranata! Ora vem, Senhor Jesus”.




[1] GARDNER, Paul. Quem é quem na Bíblia Sagrada/Paul Gardner; tradução Josué Ribeiro. São Paulo: Editora Vida, 2005. – Título origina: The Complete Who’s who in the Bible.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Há bênçãos que implicam em ter que mudar

“Mas se não lançardes fora os moradores da terra de diante de vós, então os que deixardes ficar vos serão por espinhos nos vossos olhos, e por aguilhões nas vossas virilhas, e apertar-vos-ão na terra em que habitardes...” (Números 33:55-56)
O trecho acima diz respeito a uma promessa que Deus fez para o povo de Israel por intermédio de Moisés. Havia pouco, Arão, seu irmão, falecera e isso, na mesma época em que o rei cananeu dirigiu seu povo até às margens do Rio Jordão, pois soubera que Israel ia em direção de sua terra.
Deus, então, mostrando para Moisés a direção em que estavam acampados os cananeus, lhe promete que aquela é a terra que ele separara para os descendentes de Abraão e que assim que atravessassem o Jordão, todos os moradores daquelas terras seriam lançados fora dali (talvez para outras terras).
Mas aqui é necessário que observemos a admoestação divina ao líder israelita: eles deveriam se livrar do convívio de todos quantos fossem aqueles que não estavam na margem anterior do Jordão e, até poderiam não fazê-lo tolerando, assim, sua companhia, mas se assim o fizessem, seus “hóspedes” seriam a razão de seu próprio sofrimento até que se percebessem esbulhados da terra que lhes fora dada.
A conclusão me parece inevitável: alguns convívios devem ser apartados de nossa vida ou perderemos o melhor que Deus tem para nos dar. E não me refiro apenas às pessoas com quem convivemos no nosso dia a dia. Se voltássemos no texto, veremos que Deus se refere às pinturas, suas imagens de fundição e seus altares.
E antes de ser mal interpretado já faço meu registro: não estou escrevendo contra as “imagens dos santos da igreja católica”. Quando leio que Deus determinou que restariam destruídas as pinturas, imagens de fundição e altares, entendo que serão destruídos tudo o que pudesse representar um pacto com uma vida anterior ali vivida, da mesma forma em que julgo ser importante que diante de certas realidades, sejamos nós a vivermos diferentes da vida que vivemos.
Buscar o melhor de Deus, mas trazer para o nosso dia a dia aquilo que diverge de Sua santidade, seu amor e sua justiça, é nos revestirmos de espinhos que nos flagelarão e que, se não forem extirpados, nos apartarão de habitarmos, não apenas de tudo quanto Deus nos tem preparado, mas – e isso é o mais terrível – de vivermos em Deus e Ele em nós.
E daí muitas vezes as pessoas não entendem o vazio do canto, a tristeza do riso e a opacidade dos olhos, tampouco entendem a dor que parece não ter razão e o buraco que parece impossível de preencher. Muitas vezes é esse espinho incômodo que de tão acostumado, você nem vê, mas que de tempos em tempos ele insiste em doer.

E vou além: a gente sempre sabe o que é preciso mudar quando não se quer perder ou empatar.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Deus é justo: Ele aprova, ensina e capacita, mas não faz a tua parte por você.

Se desprezei o direito do meu servo ou da minha serva, quando eles contendiam comigo, então que faria eu quando Deus se levantasse? E, inquirindo a causa, que lhe responderia? Aquele que me formou no ventre não o fez também a ele? Ou não nos formou do mesmo modo na madre? (Jó 31:13-15)

Do homem são as preparações do coração, mas do Senhor ,a resposta da boca.(...) Cofia ao Senhor as tuas obras e teus pensamentos serão estabelecidos (Provérbios, 16: 1 e 3)

É crescente o número de pessoas que acreditam que Deus privilegia um em detrimento de outro. Não raro ouvimos afirmações no mesmo sentido daquele jogador de futebol que agradece o gol que Deus lhe ajudou a marcar, ignorando que para tê-lo ajudado, Deus teria que ter “prejudicado” o goleiro, todo o time adversário e até a torcida desse time.
Qual será a dificuldade que faz com que a maioria das pessoas descreiam que Deus é Deus de todos, até dos que não acreditam nEle, o que implica no fato de que não é certo se crer que Ele faria qualquer acepção premiando um em detrimento de outrem, sem que haja razão que o justifique.
A justiça de Deus é tamanha que não Lhe permitiria premiar o desmerecedor. Até pode haver quem diga que se Deus tiver algum projeto em determinado lugar e que esse projeto pede a presença de determinada pessoa, Deus o colocará ali, mas é quando me sinto inclinado a lembrar que sempre que Deus colocou seu povo numa posição de vitória, fez com que, primeiro, eles lutassem por isso.
Sim. Os relatos histórico-bíblicos mostram o “povo de Deus” saindo a diferentes guerras e muitas vezes sendo derrotados e escravizados e nós não temos qualquer razão para acreditar que saíram dessas batalhas sem dores, arranhões e sem mortos dentre esse povo vitorioso. Ou seja, mesmo quando Deus “deu” a vitória para que Israel cumprisse sua promessa maior, foi necessário o empreendimento de grandes esforços por parte dos que foram vencedores. Nada lhes caía no colo, ou então, Deus não seria a justiça que sempre se declarou.
Passar por provas, seleções, concursos, não será por milagre, mas por merecimento. Colocando a nossa vontade para Deus, pedindo capacitação, aprovação aos desejos de nosso coração, Ele nos guiará à melhor estratégia de preparação e realização desse projeto, mas não nos pegará a mão e responderá a tudo por nós. Ele aprova, Ele capacita, mas Ele espera que façamos por onde obter o resultado que Ele providenciou, mas sem nos colocar acima de quem quer que seja que mereça mais do que nós.
Da mesma forma devemos ser nós em relação a todas as outras pessoas que passarem pela nossa vida. Não temos direito algum de desprezas quem quer que seja para lucrarmos sobre seu opróbio. Uma vez que tenhamos todos sido formados da mesma forma, nesse mesmo mundo, não há o que nos faça melhores ou mais merecedores de boas sortes.
Cada um conforme sua obra e aquilo que fez e não teremos atentado contra Deus, mas a cada vez que nos perfazemos sobre a má-ventura do nosso próximo, nos perfazemos às custas de ofendermos a boa e inerrável justiça divina, ou então, quando chegar o momento de prestarmos contas do que fizemos, o que responderemos?
Façamos, pois, o quanto antes, tudo aquilo que foro nosso melhor e mais justo enquanto a gente viver.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Não te deixe enganar: o Deus que te abençoa não se comove com o que qualquer um te declarar (seja mais dele e descubra Ele sempre será teu)

Quem primeiro me deu, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é meu. (Jó 41:11)
Nos últimos anos, no afã de reunirem mais e mais adeptos, vários movimentos ditos evangélicos estabeleceram como prática corriqueira a apresentação de um Deus subserviente ao dito pelos homens na “Terra”. É certo que os líderes desse movimento não admitem que tratam a Deus dessa forma, mas basta que tenhamos atenção ao seu discurso e veremos uma distorção e uma inversão de valores
Frequentemente vejo pulularem nas redes sociais imagens de “ministros do evangelho” “declarando” que Deus mudará a vida das pessoas se elas curtirem ou compartilharem sua declaração. Em diversos programas de televisão, “teleevangelistas” não se furtam em trabalhar a partir do desespero de pessoas repletas dos mais diferentes problemas, apresentando-lhes o céu na Terra.
A mim, parece que o mais importante é que partamos do princípio de que Deus não tem compromisso com qualquer palavra que não seja a Sua palavra, de modo que não é porque alguém afirmou a plenos pulmões que Deus fará algo, que Deus, de fato, fará esse algo.
E alguém poderia perguntar: mas Ele não pode fazer? E a resposta é Sim. Deus pode fazer isso, pode fazer mais e depois de ter feito muito, pode fazer ainda infinitamente mais do que foi pedido, do que foi pensado e até do que foi “declarado”. Mas a questão principal é que Deus não TEM OBRIGAÇÃO de fazer isso e, se e quando faz, o faz porque é bom e a “sua benignidade é para sempre”.
Ora, Deus conhece o coração do homem, seus medos e suas dificuldades e seria de se arriscar dizer que Ele “entende” a tendência do homem se voltar a Ele mais nos momentos de angústia e desesperação e, por ser essencialmente amor, se dispõe a alterar os mais diferentes cativeiros daqueles que o buscam com o entendimento de que Ele não é mero solucionador “daqueles problemas específicos”, mas sim, que a solução que Ele é, está em que o homem faça dEle a figura central de sua vida, e isso não só nos momento das adversidades, mas nos de bonança também.
Mas além de amor, Deus é justiça e, justo que é, sabe retribuir com as mais ricas e verdadeiras bênçãos, aqueles que o buscam com um coração repleto de verdade. Em assim sendo, não se pode ter como verdadeiros aqueles que se aproximam de Deus barganhando com Ele, como quem diz “Deus, eu estou te dando e então quero algo de volta”, mas sim para aqueles que se aproximam de Deus dizendo “estou ME dando, porque eu estou de volta para Ti, dai-me, pois, conforme a Tua sabedoria, aquilo que me for o melhor de acordo com a minha real necessidade”.
E é quando penso, pois, que é nisso que se encerra o conselho de Jesus quando diz “buscai primeiro a Deus e o mais será acrescentado” e não nas diversas campanhas onde se você “ofertar X” Deus te dará “10X”, ou se for dos 300, ou dos 12 ou de quantos forem os modelos que colaboram para, descontextualizados, mentirem por um Deus que não precisa que Lhe guiem ou ensinem como deve agir.
Por fim, lembro que é o próprio Deus quem se põe à prova de qualquer desafio e sei, por experiência própria, que quando nos ofertamos a Ele (não o que temos, mas aquilo que somos), Ele “abre as janelas do céu, e derrama sobre nós bênçãos tais que não nos resta lugar suficiente para que as recolhamos”. Mas primeiro somos nós que nos damos, para que, depois, seja Ele a se nos dar.